Riedel Wine Glass Experience:

A toda a velocidade

Fotografia: Ricardo Garrido

‘Veloce’, em italiano, ‘Geschwindigkeit’, em alemão. Ambas palavras que significam velocidade. Este foi o mote que Maximilian Joseph Riedel escolheu para designar a nova coleção de copos, por si desenhada e apresentada, no Riedel Wine Glass Experience.

 

Texto José João Santos e Marc Barros

 

Pela primeira vez em Portugal para a apresentação da linha Veloce por si criada, Maximilian Riedel revelou qual a razão de ser do nome: “Quando olhamos para o copo, quando sentimos o copo – o balanço, o peso – pensamos que é elaborado à mão. Mas não, é elaborado na máquina mais avançada” e, por isso, de forma bem mais rápida, explicou em entrevista à Revista de Vinhos. Este passo representa, segundo nos disse, uma evolução significativa: “Há uma grande procura grande por copos feitos à mão, mas já não há pessoas que queiram trabalhar numa fábrica. Todos querem tornar-se advogados, todos querem trabalhar num escritório, ninguém quer mais trabalhar com as mãos. É por isso que devo fazer tudo o que estiver ao meu alcance para conseguir copos produzidos em máquina que pareçam, que sejam sentidos e que se comportem como um copo elaborado à mão”.

Com um volume de negócios anual que ronda 250 milhões de euros e cerca de 1.200 colaboradores, a Alemanha é o principal mercado europeu da empresa; “vale três vezes mais que Espanha” e “10 vezes mais que Portugal”, revelou. Por seu turno, acrescenta, “Portugal é uma estrela em ascensão”, dado que, entre nós, “o negócio duplicou desde 2019”. No entanto, os EUA são “o mais significativo mercado da Riedel, que representa 20% do total de vendas”. Foi neste país que Maximilian Riedel viveu durante 15 anos. Aí, referiu, “aprendi a fazer negócios”, a “trabalhar o marketing digital e as redes sociais”. Estas são, hoje, “a melhor forma de comunicar”.

Novos tempos e tendências

Com 60 milhões de copos produzidos anualmente sob as três marcas Riedel, Spiegelau e Nachtmann, a empresa é um dos três maiores produtores mundiais. Para tanto, contribui a constante atenção sobre as tendências globais. No mercado dos EUA, Maximilian Riedel identifica “o boom dos cocktails”. Na Ásia, a empresa disponibiliza três diferentes formatos para Saké; só no Japão opera 26 lojas próprias. No mundo do vinho, Maximilian refere que a maior tendência são os vinhos rosé, ao estilo Provence.
Mas há também desafios: no último ano, a Riedel realizou três atualizações de preços, “entre 5 a 10% de cada vez, para fazer face ao aumento do custo da energia e das matérias-primas”; os custos logísticos “brutais” passaram de “3.000 euros no período pré-Covid para 20.000 euros, no envio de um contentor para os EUA, e de 80.000 euros para a China - por comboio!” Por seu turno, a guerra na Ucrânia teve um “impacto de 400% no preço do gás”.
No entanto, Maximilian Riedel não se preocupa particularmente com as novas insígnias de copos super premium que estão a surgir no mercado. “Nenhuma dessas companhias tem produção própria. Vão crescer como cogumelos, mas desaparecer rapidamente. Não os levo a sério”, referiu.


Quanto à empresa que lidera, afirma que “ser a 11ª geração da família e CEO não implica sentir-me o dono da empresa. Apenas carrego a tocha”, sublinha. A transição geracional numa empresa familiar, que nunca deixou de o ser, apesar da escala global em que opera, é fundamental. “Recebi-a com muito sucesso do meu pai, Georg Riedel, que conduziu o negócio até onde está hoje em termos de dimensão e do que podemos oferecer. O meu objetivo deverá ser o de intermediário entre o meu pai e talvez entre o meu filho ou a minha filha, aquele que quiser prosseguir o negócio. Nunca devo querer ser o último. Imagine que as 10 anteriores gerações tinham sucesso e eu falhava. Seria o fim. A razão pela qual estou tão interessado no negócio é devido à educação que recebi dos meus pais. Aprendi a fazer vinhos em Itália, em Veneza, quando o meu pai me enviou para lá, com 16 anos. Esse é agora o meu trabalho, fazer o mesmo para trazer a nova geração”, concluiu.

Transmissores de emoções

A novel coleção Veloce, disponível em nove formatos, pretende atentar às particularidades aromáticas e de prova com que cada copo “aborda” as castas que originam os vários vinhos: nas brancas, Chardonnay, Riesling e Sauvignon Blanc; nas tintas, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir/Nebbiolo e Syrah. Há ainda um copo para rosé, outro para Champanhe e vinhos espumantes e ainda um copo de água. “Cada vez mais as pessoas preocupam-se com a qualidade do copo”, salienta. Pela segunda vez, depois da coleção Winewings, “decidimos gravar o nome da casta na base do copo”, explica Maximilian Riedel, que brinca: “Assim os sommeliers já não podem enganar os clientes!” Mais a sério, prossegue: “Os meus copos transmitem todas as emoções”. 
A prova que se realizou a norte teve lugar no Vinum, espaço da Graham’s, do grupo Symington Family Estates, detentora da Portefolio, que representa em exclusivo a Riedel em Portugal. Preenchida, a sessão contou com várias dezenas de participantes, entre enólogos, sommeliers, proprietários de restaurantes, garrafeiras e wine bars, bem como imprensa especializada. Nesta prova, Maximilian Riedel deu a provar “quatro vinhos diferentes, de quatro castas diferentes - Sauvignon Blanc, Chardonnay, Pinot Noir e Cabernet Sauvignon -, em quatro copos diferentes”. O objetivo foi “experienciar o que o formato do copo pode fazer para exponenciar os aromas de uma casta e o estilo específico de cada vinho”.


Segundo Maximilan Reidel, a nova tecnologia empregue na coleção Veloce permite produzir “copos mais altos, com haste e copa mais finas”. No caso das hastes, estas são semelhantes às dos copos produzidos de forma artesanal pelos mestres-vidreiros e a base, com um diâmetro de 100 mm, passa a ser um novo referencial na indústria dos copos de grande formato. O peso dos Veloce é inferior aos Extreme, a primeira coleção produzida à máquina.
Vamos então à prova propriamente dita. Os “novos copos e formas são desenvolvidos em parceria com produtores e enólogos”, afirmou Maximilian Riedel, que traçou a analogia com o golfe, em que “se pretende ter um taco para cada jogada, terreno e buraco”. No desenho, foi seguida a máxima “less is more”, na qual “a forma segue a função”. E deixou a indicação de que, com o advento das alterações climáticas, “quanto maior o teor de álcool, mais largos devem ser os copos”.

Anatomia de um copo

No primeiro copo da prova, desenhado para a casta Sauvignon Blanc, o vinho desta casta “vai entrar de forma estreita no copo e será assim que entra na boca”, explicou. “O modelo do copo obriga a puxar a cabeça para trás e o vinho a entrar em contacto com a ponta da língua”, potenciando a fruta em detrimento da acidez. É assim posto em evidência o perfil aromático de fruta e menos a mineralidade da casta.
O mesmo vinho da casta Sauvignon Blanc servido no segundo copo, desenhado para Chardonnay e, por isso, mais largo, “potencia mineralidade e acidez. É como morder uma lima. Não há contacto com a ponta da língua e o vinho segue diretamente para o centro”.
O segundo vinho da prova, da casta Chardonnay, foi servido em três diferentes copos: os já referidos copos para Sauvignon Blanc e Chardonnay, mas também um outro, este para a variedade Pinot Noir (respetivamente 1, 2 e 3). No primeiro caso, a forma estreita promoveu a sensação ardente e cáustica promovida pelo teor de álcool do vinho Chardonnay, aumentando a perceção da acidez e tornando o vinho agreste, onde o carvalho domina. No segundo copo, de Chardonnay, mais largo, o mesmo vinho teve um comportamento diverso, predominando os aromas de fruta, levedura e tostados do carvalho e, na boca, a viscosidade e a estrutura cremosa da casta, notas florais no aroma de boca, de final longo e salivante, destacando a acidez firme. Por sua vez, no terceiro copo, dedicado à variedade Pinot Noir, mais estreito que o anterior, o vinho Chardonnay apresentou-se mais intenso nos aromas de madeira e na sensação de álcool, com textura agreste, perdendo cremosidade e equilíbrio, seco no final.
De acordo com Maximilian Riedel, os copos 1 e 3 têm algo em comum: “A abertura é estreita”. A casta Chardonnay “precisa de ir para o centro do palato, mas estes copos conduzem-na para a ponta da língua”. Por isso, acrescenta, “servir Chardonnay num copo de Pinot é matar o Chardonnay”.


Quanto ao terceiro vinho da prova, da casta Pinot Noir, foi servido nos copos de Chardonnay, Pinot Noir/Nebiollo e Cabernet Sauvignon/Merlot (copos 2, 3 e 4). No copo 2, o vinho mostrou presença de álcool, com aromas de pólvora e, na boca, ‘chato’, sem acidez e profundidade, evidenciando o tanino verde. No copo 3 (dedicado à casta), assomaram os aromas de fruta vermelha, tomate e especiaria, com noção de acidez linear, fruta verde e tanino suave. Já no copo 4, com o típico formato tulipa, mostrou um toque de redução e, na prova de boca, acídulo, com os taninos amargos e verdes.


Finalmente, o quarto e último vinho, da casta Cabernet Sauvignon (do Chile), foi servido nos copos 1, 3 e 4. No copo 1 (Sauvignon Blanc), apresentou-se neutro do ponto de vista aromático, com tanino presente, firme, mas sem arestas. No copo 3 (Pinot Noir), revelou aromas de fruta seca, passificada, com taninos verdes e agrestes e acídulo. Já no copo 4 (devotado à mesma casta do vinho servido), mostrou aromas de fruta preta, mirtilo e especiaria, com tanino um pouco seco, mas suave. 
Uma nota final quanto à prova: contrariamente ao que era dado como consensual, não existe um “mapa de recetores” em diversas partes da língua, em que cada uma destas seria responsável por ‘despertar’ um sabor diferente. Um estudo publicado na revista Nature (da autoria de Jayaram Chandrashekar et al., 2006), demonstra que os cinco sabores básicos (ácido, amargo, doce, salgado e umami) estão presentes em toda a área da língua. Assim, a influência do copo na prova, tanto olfativa como no palato, que não pode ser desconsiderada, deve atentar a estes parâmetros.


Por último, esta coleção de copos apresenta ainda a notória vantagem de poderem ser lavados à máquina, desde que cumpridas as precauções sugeridas pelo fabricante. Apresenta-se em caixas de dois, vendidas no portal Riedel ao preço de 59,00€. A arte da decantação não foi esquecida, com Maximilian Riedel a apresentar duas peças de grande beleza estética e a deixar-nos com uma máxima: “Decantar vinhos jovens à bruta, sim!” Faça-se, pois.