Avesso

Fotografia: Arquivo
Marc Barros

Marc Barros

Variedade autóctone da região dos Vinhos Verdes, a casta Avesso tem habitat tradicional na sub-região de Baião (Baião, Cinfães e Resende, no limite com a região do Douro, aqui delimitada pelo rio Teixeira). Aqui, é também conhecida como Borral, Bornal ou Borraçal Branco. Jancis Robinson chama-lhe Jaen Blanco de Andalucia. O Vitis International Variety Catalogue atribui-lhe a sinonímia de Cayetana Blanca (esta, ao que parece, transmitiu o seu pedigree a uma grande variedade de castas ibéricas, incluindo as nossas Gouveio, Síria, Antão Vaz e Rabo de Ovelha). 


A Avesso tem conhecido, nos últimos tempos, expansão substancial para sub-regiões contíguas, como Amarante, Paiva e Sousa. Fruto desse crescimento, é expectável que a mancha de Avesso no Minho supere já os cerca de 800 ha de que os últimos registos davam conta.

E porquê este crescimento de uma casta até há pouco estimada apenas por técnicos, enólogos e alguns apreciadores? Casta de maturação precoce, apresenta rendimento médio, que pode ir das 6 às 20 toneladas por hectare (em casos mais excecionais). Dá-se melhor em solos graníticos e secos. Gera vinhos com reduzido teor alcoólico e apresenta uma acidez natural média a elevada que, em certas condições de vindima temporã, pode superar os 9 gr./lt. Ou seja, vinhos pouco alcoólicos e bem frescos, que vão de encontro à procura atual do mercado. Apesar dessas premissas, consegue apresentar vinhos maduros, com características organolépticas que vão desde os aromas frutados, cítricos e de fruto de polpa branca, tons florais e até notas de frutos secos e mel. São, por norma, elegantes, subtis e complexos, intensamente frescos, por vezes até acídulos, com bom volume de boca, harmoniosos e muito sérios. 

A casta consegue facilmente, porém, fazer jus ao nome: vinhos e mostos são muito sensíveis à oxidação e perda de acidez. A película fina torna-a sensível a escaldões. Em Baião – mas também nas restantes sub-regiões para onde se disseminou – goza de um clima menos atlântico que continental e altitudes médias. Acima dos 300 metros tem maior dificuldade em amadurecer, sendo, nestes casos, utilizada como vinho base para espumantizar. É, para além disso, uma casta muito versátil em termos gastronómicos, podendo acompanhar uma vasta panóplia de pratos e ser o parceiro ideal em vários momentos de consumo. Agora que chegou o verão, que tal virar-se do Avesso?

DICAS

1 - A Avesso é uma das variedades que ganhou notoriedade como casta nobre dos Vinhos Verdes, a par das congéneres Alvarinho, Loureiro, Azal ou Arinto. Mal-amada, esteve em sério declínio, mas tem sido recuperada e acarinhada, dadas as suas enormes virtudes enológicas. Produz vinhos bem mais sérios e complexos que o padrão regional, volumosos e suaves, mas simultaneamente frutados e frescos e, até, com grande potencial de guarda.

2 – Porém, mais do que apenas vinhos monocasta, a Avesso dá-se muito bem quando loteada, mostrando crescimento aromático e no potencial de frescura quando casada com outras variedades regionais, como Arinto, Trajadura ou Loureiro.

3 – Sendo uma casta que está a ser redescoberta, possui menos histórico se comparada com outras castas dos Verdes. Mas este trajeto está a ser construído em torno de uma imagem de qualidade, a par de outras “parceiras”, como a Azal. Afigura-se natural que algumas experiências comecem a ganhar corpo. Veja-se, a título de exemplo, a espumantização da casta (a solo ou em lotes), ou o estágio em madeira, onde junta complexidade e nobreza às características frutadas e florais.

4 – Ficam, por isso, algumas sugestões para prova: Quinta de Gomariz Colheita Selecionada Avesso 2019 (eleito melhor vinho do ano no concurso “Os Melhores Verdes” 2020); Vila Nova Reserva Avesso 2017; Lavandeira Escolha Avesso 2018; Abcdarium Avesso 2019; Cazas Novas Avesso Pure; Opção – Avesso Reserva 2016 (estagiado em madeira) e; os espumantes Casa de Vilacetinho Avesso e Niepoort OLO (lote de Avesso, Arinto, Trajadura e Alvarinho). Entre as Serras do Eça e o Douro Verde, a poucos quilómetros do Porto, vale bem a pena a visita às terras de Avesso.