Podemos aferir a valia de uma casta quando esta se torna extremamente disputada, como é o caso da variedade Alvarinho. Desde logo na origem: de onde veio primeiro, da Galiza ou do Minho? É igualmente disputada no Minho: deve ser exclusiva da sub-região Monção e Melgaço ou permitir-se à denominação da restante região dos Vinhos Verdes? Mas é também cortejada entre regiões: casta minhota ou variedade adaptável a outras regiões? Douro, Alentejo, Lisboa, em todas elas a casta produz vinhos de enorme qualidade. E, já agora, a rivalidade é apenas nacional ou, se quisermos, peninsular? Nem pensar: Austrália, África do Sul, EUA, já plantam e produzem vinhos com a casta. Ironia final: desde junho de 2019, integra o conjunto de sete variedades aprovadas para produção de vinhos AOC Bordeaux/Bordeaux Supérieur e AOC Entre-deux-Mers.
Por que razão é tão cobiçada? Simples, porque produz vinhos brancos únicos, é uma casta que se adapta a diversos tipos de solo e climas e revela-se plástica na adega. Em Portugal responde por cerca de 3.200 ha (dados de abril de 2018). Na sub-região de Monção e Melgaço combina a mineralidade granítica com a exuberância aromática da tropicalidade das notas florais, os vinhos são frescos e profundos, podem evoluir graciosamente e são altamente gastronómicos.
Aqui, a casta possui uma acidez natural ímpar, que pode ir das 5,5 às 7 gr./lt., e a limitação produtiva de 6000 kgs./uva por ha. confere a escassez necessária para que possa tornar-se a uva mais bem paga de Portugal Continental. Alargando o leque à restante região dos Vinhos Verdes, assistimos a uma pequena transformação da casta, em função da sub-região onde se encontra, mantendo a sua frescura, com perfis mais frutados, tropicais, frutos de polpa branca e cremosos. O perfil de tropicalidade acentua-se em zonas mais quentes, mas a sua aptidão para fermentação e envelhecimento em madeira acrescenta novas dimensões aos vinhos.
Porém, a capacidade de envelhecimento, fruto da enorme acidez, oferece aos vinhos desta casta a complexidade e riqueza em aromas terciários, que se traduzem nas notas apetroladas, de frutos secos, mel ou figos. A cor brilhante e intensa dá lugar a tons dourados ou acobreados; à frescura tensa, gordura e crocância na boca acrescem o corpo maciço e a elegância que só o tempo confere aos grandes vinhos.
1. Os vinhos da casta Alvarinho são bem aromáticos e, por vezes, pode não ser fácil ligar adequadamente a expressividade frutada e o teor alcóolico à mesa. Entradas e refeições leves, saladas, alguns mariscos e peixes com pouco gordura são casamentos sempre bem conseguidos.
2. Porém, limitar os Alvarinhos a vinhos de verão é subestimar completamente a sua complexidade. Vinhos mais evoluídos, marcados por notas minerais, sabores mais profundos e acidez por vezes cortante, são verdadeiros todo-o-terreno para acompanhar pratos gordos, carnes e assados, enchidos e queijos fortes.
3. A idade costuma ser benfazeja para os vinhos Alvarinho. Caso consiga deitar as mãos a um exemplar com uma década ou mais de garrafa, trate-o com o desvelo que merece. Decantar vinhos mais jovens e exuberantes pode ser uma mais valia – no caso de vinhos mais velhos nem tanto. Deslumbre-se com o assombroso brilho dourado no copo e tenha paciência para aguardar todo o encanto que estes podem trazer.
4. A plasticidade da casta assenta no potencial para originar vinhos de diversos estilos e categorias. Os espumantes são uma destas. Em lotes com outras castas ou a solo, apresentam um patamar qualitativo cada vez melhor.