Casta: Trincadeira

Fotografia: Arquivo
Marc Barros

Marc Barros

Trincadeira a sul, Tinta Amarela a norte, esta variedade de maturação precoce é a quinta casta tinta mais plantada no país, com 8.413 ha, ou seja, 4% do total nacional (dados IVV de abril de 2018). Sendo uma variedade com ampla disseminação, dá-se melhor em zonas quentes e secas, com muitas horas de sol e solos com boa drenagem. Talvez por isso, encontra no Alentejo e no Douro os seus terroirs de maior aptidão, apesar de mostrar desempenhos favoráveis noutras regiões, como Trás-os-Montes, Dão, Beira Interior, Tejo, Lisboa, Setúbal e… Austrália.


Mostra-se, no entanto, de produção irregular e até algo desmesurada nos primeiros anos, podendo facilmente obter rendimentos de 15 a 20 toneladas por hectare. Após anos de produtividade elevada, reduz para níveis de produção mais aptos a vinhos de qualidade.

É atreita a doenças como o oídio e a podridão, neste caso sobretudo quando ainda em verde, problemas que podem ser agravados dada a película fina do bago. É ainda sensível a parasitas, como a cigarrinha verde, pelo que exige acompanhamento particular.

Porém, quando a uva chega à adega em perfeito estado sanitário, é capaz de resultar em vinhos de excelente qualidade, elegantes e equilibrados, com taninos suaves e aromas de ameixa preta e amora em compota. Oferece teores médios de acidez (4,5 a 5,5 gr./lt. de acidez tartárica), pelo que, na maior parte dos casos, recomenda-se o seu loteamento, emparceirando sobretudo com Aragonês e Alicante Bouschet no Alentejo e Touriga Nacional e Touriga Franca, no Douro.

Possui ainda boa capacidade de envelhecimento e dá-se bem na madeira: é, também por isso, uma casta nobre para produção de Vinho do Porto, ao qual aporta mais quantidade (uvas) com qualidade e estrutura, sendo ao mesmo tempo capaz de suavizar a rudeza e rusticidade tânica dos parceiros. Mais uma prova que Portugal é, realmente, um país de vinhos de lote. 

DICAS:

1 – As designações desta variedade autóctone, apesar de curiosas, não se ficam pelas mais comuns: Castiço no Tejo, Murteira em Setúbal, Crato Preto no Algarve ou Trincadeira Preta e ainda Preto Martinho são outras sinonímias da casta. 

2 - Na Austrália, existem registos de 1862, com o nome Black Portugal. Aí, responde sobretudo pelo seu nome nortenho e dá origem a alguns vinhos monocasta, participando também nos lotes dos seus fortificados.

3 - Os vinhos da casta resultam habitualmente em cor intensa e concentrada, com notas de ameixa, compota e passa, podendo apresentar aromas especiados, picantes e herbáceos e toque floral aprazível. 

4 – Dá-se bem à mesa, sobretudo com carnes brancas, fumeiros, arrozes, alguns pratos especiados mais suaves e queijos menos intensos.

5 – Como habitualmente, deixamos algumas sugestões de vinhos da casta a solo, para que possa tirar as suas próprias ilações: do Alentejo, Esporão Trincadeira 2017, proveniente de vinhas com mais de 40 anos em solos graníticos/xistosos e Trincadeira Não Tão Preta 2018; mais a norte, o transmontano Valle de Passos Tinta Amarela 2016 e o duriense Quinta de Ventozelo Tinta Amarela 2017. Boas provas!