O Douro Superior tem-se assumido como um dos terroirs com maior procura em toda a região duriense. Apesar de inóspito, por ali são produzidos alguns dos vinhos de referência da região e mais projetos se vão somando aos que há anos ali se fixaram. Nesta reportagem, um projeto de família, Quevedo, e um projeto de dois amigos de sempre, Duorum.
O Douro, património da humanidade, é uma região de muitas faces, muitos estilos e diferentes identidades. Poucas regiões no mundo detêm o privilégio de ostentar tanta diversidade, natural e humana. Poucas denominações conseguem contrapor vinhos modernos e profundamente tecnológicos face a vinhos tão visceralmente clássicos e rústicos no estilo, como o Douro consegue igualmente apresentar. Poucas regiões conseguem afirmar-se no mundo dos vinhos generosos com ícones internacionais como o Vinho do Porto ao mesmo tempo que continua a surpreender o mundo com a nova geração de vinhos do Douro.
Poucas regiões no mundo conseguem oferecer vinhos tão cheios de alma e carácter como o Douro. Nenhuma outra região no mundo consegue no mesmo espaço físico dar corpo a vinhos tão díspares e quase incompatíveis entre si como o Douro, onde florescem vinhos espumantes leves, frescos e complexos a par de vinhos generosos como o Vinho do Porto Vintage, profundamente carnudos e densos. Ao Douro nada está vedado e a qualidade afirma-se nos vinhos espumantes, nos brancos, rosés, tintos, vinhos generosos brancos e tintos e, pasme-se, nos vinhos doces de colheita tardia. Uma realidade que diz muito sobre a complexidade e a riqueza da região.
Para além de uma beleza natural absolutamente indescritível, que o homem domou e cultivou à medida, o Douro é uma das regiões nacionais mais abençoadas na riqueza de castas autóctones, abundância multiplicada pela diversidade de exposições, altitudes, climas, linhas de água e um enorme património de vinhas velhas, que a pobreza aliada à sabedoria do homem permitiu manter.
Mas para além dessa riqueza natural que o homem soube preservar sobram ainda as incongruências próprias da região, apontamentos e especificidades que nenhuma outra região nacional ou país produtor de vinhos decidiram seguir. Originalidades nacionais e locais que num universo tão padronizado e regrado como a viticultura, onde pouco espaço é deixado para a improvisação, aceitou plantar vinhas de forma misturada, sem ordenação aparente e num estado que poderia ser apelidado como caótico, onde diferentes castas são plantadas de forma misturada e aleatória. Poderá ser um sentimento natural para nós, portugueses, mas as vinhas misturadas são um dos sinais mais distintivos, estranhos e identitários da viticultura duriense.
As vinhas misturadas são, embora poucos o percebam no Douro e em Portugal, um dos nossos maiores e melhores trunfos neste mundo global do vinho, um trunfo que deveria ser mais valorizado, tanto na promoção como na produção. Infelizmente, quando hoje falamos em vinhas misturadas teremos quase invariavelmente de acrescentar a palavra “velhas”, insistindo nesse conceito de vinhas velhas misturadas. Um erro e um disparate que as próximas gerações vão pagar pela falta de visão das gerações atuais. A razão para falarmos sempre em vinhas velhas misturadas é triste mas reveladora da mentalidade portuguesa. Atualmente, poucos, muito poucos, têm a firmeza, paciência, vontade e visão necessárias para perceber a herança e património que estamos a desbaratar, desistindo de plantar as vinhas novas de acordo com as mesmas práticas do passado, que tanto gostamos de valorizar e comentar.
A região mais rica neste património de vinhas misturadas é um caso paradigmático. Aproveita as vinhas velhas misturadas elevando-as aos píncaros do exotismo e personalidade para, depois, não lhes dar seguimento. A maioria dos produtores da região sustenta em palavras e atos que muitos dos melhores vinhos do Douro nascem de vinhas plantadas segundo este método clássico, esquecendo-se depois que estas mesmas vinhas velhas não poderão viver para sempre. Ao mesmo tempo que elogiam e valorizam o passado, os mesmos produtores nada fazem para renovar este capital, desleixando o futuro, as novas gerações e um dos melhores trunfos do Douro e de Portugal.
Condição especialmente estranha quando sabemos que uma das principais razões para a existência de vinhas misturadas foi a tentativa de minimizar os riscos associados e quando existem tantas vinhas velhas misturadas exemplares, onde seria fácil buscar inspiração e material vegetativo para plantar vinhas jovens que renovassem o passado glorioso.
Muitos dos grandes vinhos nacionais nascem no Douro, verdade insofismável, válida tanto para o Vinho do Porto como para o vinho do Douro. Mas se os vinhos da região beneficiam de uma imagem externa justificadamente esplendorosa, se o Douro oferece vinhos notáveis no segmento superior, infelizmente a excelência não é regra e não representa mais que uma minoria dos vinhos produzidos. Apesar de a afirmação não ser agradável de pronunciar, a verdade é que a qualidade média dos vinhos durienses é baixa e francamente desmotivante, quase constrangedora.
O amparo do Vinho do Porto foi essencial para os vinhos do Douro levantarem voo nos instantes iniciais. A região é incomparável nessa relação umbilical entre os vinhos generosos e tranquilos, sendo única na partilha das mesmas fronteiras, solos, vinhas, castas, adegas, quintas e enólogos. Ainda hoje, o Vinho do Porto continua a ser fundamental para custear e socorrer o preço das uvas, com a implementação e transação dos cartões do benefício. Quantas vinhas seriam viáveis no Douro sem o expediente do benefício e qual será o futuro da região quando algum dia se extinguir a prática do benefício?
Entretanto, o Douro conquistou um lugar próprio, feito impressionante quando nos recordamos que a história dos vinhos do Douro é um acidente recente. Poucos se recordam que o virar de página aconteceu a meio da década de 90 do século passado, enquanto a verdadeira explosão teve lugar no início deste século. Em pouco mais de duas décadas, o Douro conseguiu assumir a liderança interna e externa na imagem dos vinhos de qualidade. É de longe a região portuguesa mais conhecida e reconhecida internacionalmente.
Muito mais recente é a expansão e reconhecimento da sub-região do Douro Superior. Apesar de ainda poder ser considerada terra nova a desbravar, o Douro Superior passou a ser conhecido como um dos locais mais excitantes para a concretizaçãpo de novos projetos. Deixou de ser o filho enjeitado que mantinha uma relação de inferioridade com as restantes sub-regiões do Douro para assumir a condição de terra prometida, onde todos querem estar. Em menos de uma década, o eixo do Douro foi subitamente deslocado para leste, criando uma nova centralidade. O Douro Superior remoto e quase esquecido ficou inesperadamente na moda e num ápice todos quiseram contrair um papel ativo nessa transformação.
Sem o benefício da água para cortar os efeitos de um clima extremado, um dos climas mais secos de Portugal continental, teria sido muito difícil plantar vinha com a força e entusiasmo com que tem sido promovida ao longo da última década. Sem rega, sem a água do Douro e afluentes, seria quase impossível garantir a viabilidade dos muitos hectares de vinhas novas que foram plantadas. Sem a ajuda preciosa da água, a epopeia moderna do Douro Superior muito provavelmente não teria acontecido.
A verdade é que o Douro Superior ganhou estatuto, autonomia, espaço e vive hoje um momento de afirmação e diferenciação. Há quem tenha chegado logo no início desta diáspora, há quem tenha chegado mais recentemente e há quem ainda esteja a chegar ao Douro Superior. Há quem pense que o Douro Superior representa o futuro, há quem lhe renegue a importância colando-lhe a pele de zona demasiado quente e madurona, há quem privilegie que a vantagem do Douro Superior reside na arte do lote com as restantes duas sub-regiões do Douro.
Em qualquer dos casos a história é a mesma, a de descobrir um mundo novo dentro daquela que é a denominação mais antiga e conservadora de Portugal. E o Douro Superior vive mesmo dentro deste estranho paradoxo, de ser uma espécie de novo mundo na denominação mais antiga do mundo.
Este trabalho fala sobre duas realidades distintas, dois projetos que nada têm em comum, dois produtores de origens distintas, ambições diferentes, dimensões antagónicas e perspetivas divergentes. Um tem origem familiar, assente nas gerações anteriores e na ligação umbilical à terra, enquanto outro é um projeto novo traçado a meias entre dois dos enólogos mais relevantes de Portugal. Um esconde-se numa postura mais low profile, enquanto outro não esconde ambições mais mediáticas. Um oferece nomes quase desconhecidos, enquanto outro anuncia um dos rostos mais decisivos e conhecidos do Douro.
Mas ambos comungam deste apelo à vinha e ao vinho, ambos assentam os vinhos no lote entre o Cima Corgo e o Douro Superior, ambos são produtores de referência, que de forma descoincidente mas igualmente marcante elevam a imagem do Douro para o patamar da excelência.
Quevedo
Vinhos e nome de família
Não é fácil fazer e estar no mundo do vinho quando as empresas são pequenas e se mantêm na esfera familiar ao longo de diversas gerações. Não é fácil gerar entusiasmo familiar nas novas gerações por empresas pequenas, que muitas vezes não possuem marca própria, vivendo da pouco excitante ideia de vender vinho ou uvas para terceiros, que lhe darão direito a identidade própria. Não é fácil manter a existência de empresas familiares na sociedade moderna. Conseguirão as empresas familiares viabilidade económica satisfatória que lhes permita assegurar um futuro auspicioso ou estarão as empresas familiares condenadas a uma extinção prematura, lenta mas gradual?
As empresas familiares estão sujeitas a pequenas e grandes contrariedades, incluindo as condicionantes da delicadeza do trato familiar, a pulverização resultante das partilhas e uma eventual falta de profissionalismo na sucessão e escolha da liderança. Presidir a uma sociedade familiar não é tarefa fácil. Mas é seguramente a melhor forma de estar no negócio do vinho, num mundo que implica envolvimento pessoal, continuidade, valores e alma.
Atributos que não faltam na Quevedo, produtor pequeno dedicado por inteiro aos vinhos do Douro e Porto e que, apesar de uma notoriedade crescente dentro de fronteiras, continua a ser tão desconhecido em Portugal. Não é seguramente o caso em alguns países europeus ou noutros continentes que recebem o grosso da produção. Afinal, a quase totalidade da produção está destinada à exportação, onde por regra é mais ultrapassar as barreiras do preconceito que tolhem o mercado nacional.
Se até muito recentemente ninguém conhecia os vinhos Quevedo, a verdade é que o nome começa hoje a fazer parte do léxico dos enófilos nacionais e internacionais, sobretudo daqueles que têm uma ligação mais forte às redes sociais e aos canais de distribuição mais tecnológicos. Por não ser uma marca conhecida e por ser um produtor pequeno em dimensão, sem acesso a um orçamento generoso para a promoção de uma marca que é desconhecida para a maioria dos consumidores nacionais e internacionais, a Quevedo especializou-se na comunicação mais direta e menos convencional da Internet e das redes sociais, que têm sido especialmente bem trabalhadas pela geração que hoje conduz os destinos da casa.
Tem sido um trabalho de formiga, passo a passo, um trabalho de promoção e produção meticulosamente planeados, que revela que é possível construir uma marca mesmo sem grandes conhecimentos pessoais no meio, sem o pedido de favores, sem dinheiro, sem agências de comunicação, sem nada do que é considerado indispensável para a maioria dos projetos novos e já estabelecidos. Um trabalho insano que tem sido protagonizado por Óscar Quevedo, que dá a cara pelo projeto de uma família que vai já na quarta geração.
Óscar Quevedo viaja muito pelo mundo mas escolhe os mercados, as feiras, os eventos em que participa com especial cuidado. Não está presente nos eventos mais mediáticos e mais caros mas é fácil encontrá-lo nos eventos mais pequenos e de maior proximidade, é fácil encontrá-lo a visitar clientes ou a prospetar por potenciais novos clientes. Não vai passear mas sim trabalhar e todas as ocasiões são propícias para dar a conhecer os vinhos a putativos clientes. Sabe, além disso, socorrer-se das novas tecnologias de forma especialmente inteligente, tendo inclusive promovido vindimas e lagaradas online, que acabaram retransmitidas para quem as quisesse presenciar.
De 1889 até 1986, a família limitava-se a produzir uvas e vinho para terceiros, para as grandes casas de Vila Nova de Gaia que se abasteciam com vinhos e uvas dos muitos viticultores e produtores espalhados pelo Douro. Tudo mudou em 1986, quando a alteração de legislação passou a permitir a produção de Vinho do Porto a todos os candidatos que assim o entendessem, mesmo que não dispusessem de armazéns de envelhecimento em Gaia, tal como a legislação anterior obrigava. Foi assim que Óscar Quevedo (pai), curiosamente nascido na Vidigueira, advogado e notário, aproveitou a ocasião para lançar-se no sempre difícil mundo do vinho.
Com muito trabalho próprio e também graças à herança combinada das duas famílias, a Quevedo começou cedo a produzir vinho. Mas, mais importante, começou por replantar parte das vinhas que se encontrava em estado menos satisfatório, renovando parte substancial do património familiar que hoje está dividido em seis quintas distribuídas entre o Cima Corgo e o Douro Superior. Cinco quintas espalhadas pela linha da fronteira que separa as duas sub-regiões e que contam com nomes tão sonantes como Quinta Vale D’Agodinho, Quinta da Trovisca, Quinta da Valeira, Quinta Senhora do Rosário, Quinta da Alegria e Quinta das Mós.
Cinco localizações próximas mas que revelam combinações tão díspares, que quase poderíamos afirmar estarem em seis regiões distintas. Enquanto umas primam pela frescura da altitude outras sofrem com exposições a sul, que tornam as maturações muito mais impressionantes, favorecendo a arte do lote e a incursão pelos Vinhos do Porto que continuam a ser parte essencial da oferta da casa. A enologia da casa está a cargo da irmã Cláudia, hoje focada quase exclusivamente nos vinhos do Porto, deixando os vinhos do Douro nas mãos de Teresa Batista.
Poderia ser apenas mais um produtor bem-intencionado se os resultados não falassem por si. O sucesso comercial sustentado não seria possível sem o valor real dos vinhos que impressionam pela limpidez, frescura, foco e pureza. Vinhos que fogem ao perfil de alguma rusticidade e concentração excessiva que tantas vezes surgem associados ao Douro, impondo-se pela elegância e clareza de aromas e paladar. Sem ilusões, sem truques, sem passes de magia. Vinhos que dão vontade de provar e de voltar a beber. E esse é talvez um dos maiores elogios que se podem fazer a um produtor.
Duorum
Cumplicidade entre amigos
Este é um projeto que juntou dois enólogos lisboetas, dois amigos de infância que cresceram juntos, estudaram juntos e estagiaram juntos. Dois amigos genuínos, que numa das muitas ironias em que a vida é fértil acabaram juntos na idade da razão para fundar um projeto comum e ambicioso, grandioso e revolucionário. Uma história em andamento, delineada numa das paisagens mais monumentais que o homem conhece, o Douro Superior. A história dos vinhos Duorum, uma empreitada grandiosa que desde o início se percebeu ser vencedora.
Quando o mundo do vinho nacional ouviu falar deste projeto ímpar e inesperado, a emoção, surpresa e suspense não se fizeram esperar. Um misto de expetativa e sobressalto, não só pela junção de dois dos pesos mais pesados da enologia nacional mas, igualmente, pelas circunstâncias profissionais e pessoais de cada um dos intervenientes, José Maria Soares Franco e João Portugal Ramos.
Enquanto ao primeiro poucos previam a saída da Sogrape, o afastamento de um dos postos mais ambicionados da enologia nacional, ao segundo poucos adivinhavam um avanço para o Douro. Num mundo pouco habituado a solavancos entre enólogos e produtores de diferentes regiões, e numa época onde a moda
assentava precisamente no pressuposto contrário, produtores a investir no Alentejo, o projeto Duorum chegou como uma surpresa que veio agitar o mercado. Para cúmulo, a dupla apostou numa quinta própria no Douro Superior, condição pouco óbvia no momento em que foi tomada.
Não foi difícil perceber a mão de José Maria Soares Franco nessa decisão. Afinal, tinha sido ele a desbravar terreno poucos anos antes, quando ainda trabalhava na Sogrape e civilizou a quinta quase ao lado do poiso atual. José Maria Soares Franco, habituado a trabalhar junto de Fernando Nicolau de Almeida, numa casa histórica que tanto lhe ensinou e que tanto beneficiou desse saber. Numa época onde o Vinho do Porto ainda era quase monopolista na atenção de enólogos e administrações, José Maria Soares Franco encontrou-se perante verdadeiros mitos como o Barca Velha ou o Reserva Especial da Ferreirinha.
Ganhou, por isso, uma sensibilidade especial pelos vinhos do Douro, percebendo as exigências e cuidados especiais que estes vinhos reclamavam. Depois de trabalhar em todos os setores da Ferreirinha descobriu muitos dos recantos escondidos do Douro, farejou o terreno, viveu as condicionantes e as alegrias de Gaia e do Douro de forma intensa e apaixonada. Conviveu durante dez anos com Fernando Nicolau de Almeida, de quem recebeu ensinamentos, conselhos e lições. Lições não só técnicas como de humildade e humanidade, respeito pela natureza, paixão e sensibilidade na arte do lote, rigor e precisão. Foi descobrindo o Douro e alguns dos muitos segredos, embrenhando-se igualmente nas profundezas e segredos de Gaia, na arte do lote e da prova, na aprendizagem da consistência e fiabilidade, na paciência e sensibilidade da sala de provas.
Com a experiência acumulada de muitas vindimas na região do Douro, com o traquejo contraído de muitas colheitas ali mesmo ao lado, José Maria Soares Franco sabia que o projeto Duorum teria de se estabelecer no Douro Superior, de preferência com frente para o rio Douro e num terreno virgem de vinha, experiência a que se tinha dedicado no passado. Se os entraves foram muitos durante um período inicial, a verdade é que o tempo se encarregou de suavizar algumas das arestas originais da empreitada, dando azo a que a sociedade acabasse por comprar duas quintas, uma com frente de rio para o Douro e outra, um pouco mais remota, terra que por ora se encontra ainda por desbravar, nas margens do rio Côa, mesmo junto à foz do rio, numa quinta confinante à Ervamoira, no Monte do Farizeu, santuário de muitas das principais gravuras rupestres do Côa.
Experiente e douto no mundo do vinho, João Portugal Ramos cedeu a iniciativa a José Maria Soares Franco, aceitando conselhos e decisões sem se imiscuir na gestão diária do Duorum e no desenho dos vinhos aí elaborados. A confiança entre os dois é total, sincera, numa cumplicidade que se adivinha a milhas. A José Maria Soares Franco agradava-lhe a ideia da consistência superior da subregião do Douro Superior, a constância climática, o isolamento, o lado selvagem ainda tão visível e tão presente, os solos virgens, a paisagem pronta a ser redesenhada pelo homem.
Compraram 160 hectares de terra virgem, satisfazendo os três requisitos primordiais que José Maria Soares Franco tinha inscrito no caderno de encargos. Frente de rio pela indispensabilidade da rega, encostas escarpadas para as maturações mais pronunciadas e para a elaboração de Vinho do Porto e cotas altas e planas para
o desígnio de frescura, para os equilíbrios perfeitos entre açúcar e acidez. Compraram terra virgem com dois ou três olivais murados e gastaram fortunas nas surribas, na definição de patamares, na plantação e ordenação de uma terra virgem que nunca tinha tido vinha.
A propriedade divide-se entre os altos relativamente planos e mais fáceis de trabalhar e as encostas viradas para o Douro que tiveram de ser recortadas com a perícia dos socalcos modernos, que retalham a montanha para acomodar os muitos hectares de vinha que já foram plantados. Apesar de as primeiras vinhas só terem sido plantadas em 2008, a verdade é que o crescimento tem sido rápido, num investimento de monta que continua a medrar. Tendo em conta a idade ainda juvenil das vinhas plantadas na Quinta de Castelo Melhor, José Maria Soares Franco decidiu arrendar vinhas velhas na sub-região do Cima Corgo para acrescentar a complexidade e razão que as vinhas jovens ainda não conseguem oferecer nesta idade tão tenra. É também no Cima Corgo que por ora se situa a adega.
Os vinhos são discretamente diferentes do perfil tradicional do Douro, talvez mais práticos e diretos na abordagem, mais acessíveis e amáveis, finos e elegantes, surpreendentemente frescos e sedosos. São vinhos originais e essa é uma das enormes vantagens do projeto Duorum ao oferecer uma visão alternativa para o Douro Superior.