Herdade da Lisboa

Nasce um novo ícone no Alentejo

Fotografia: Fabrice Demoulin
Guilherme Corrêa

Guilherme Corrêa

O patriarca da família Cardoso, João, guia o carro por entre as vinhas da Herdade da Lisboa e mostra com orgulho os talhões de cada casta. Está mesmo por dentro de tudo do projeto, de cabeça e coração. Se considerarmos que possui actualmente 700 hectares de olival, 300 hectares de vinhas e 400 hectares de floresta e outros cobertos autóctones distribuídos pelo Alentejo, Ribatejo e Douro, tem-se um verdadeiro feito da parte deste senhor, cheio de energia. “A herdade fazia vinhos inigualáveis no Alentejo com a marca Paço dos Infantes, na década de 80”, diz ele, orgulhoso da aquisição em 2011 desta propriedade de imenso potencial da Vidigueira.


A Herdade da Lisboa reúne uma área bastante ampla atualmente, de 350 hectares totais, dos quais 105 hectares de vinha, 80 deles replantados em 2006, 2007 e 2008, e os restantes em plantios mais recentes. Como é comum no Alentejo, o encepamento escolhido homenageia as castas clássicas alentejanas e portuguesas (Antão Vaz, Arinto, Roupeiro, Verdelho, Aragonês, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Touriga Franca e Trincadeira), mas também abre-se ao experimentalismo com castas internacionais (Viognier, Chardonnay, Syrah, Petit Verdot e Cabernet Sauvignon). 

A Vidigueira é um caso à parte no Alentejo, reconhecida pela frescura dos seus brancos e tintos. Para além da influência da Serra do Mendro, que emoldura as vinhas suavemente onduladas, a herdade está sitiada entre águas, com a Ribeira de Selminhos à nascente e a Ribeira do Freixo a poente, pactuando para um mesoclima bastante particular, exponenciador da afamada frescura da sub-região. Outra característica inata dos vinhos da herdade vem dos seus solos. Caminha-se por entre as vinhas a escutar o barulho das pedras de xisto a esfacelarem-se sob os nossos pés, amalgamando-se com a argila avermelhada da sua decomposição. Não por acaso, os vinhos dali nascidos possuem uma mineralidade esfumaçada de xisto, vertical a todas as castas e estilos de vinificação. Como não poderia deixar de ser, a sustentabilidade é levada a sério na empresa, com controlo rigoroso de todas as práticas na vinha, segundo os protocolos do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo.

Para transformar estas uvas tão especiais em vinhos diferenciadores, a família Cardoso procurou um enólogo jovem e extremamente talentoso, Ricardo Xarepe Silva, e outro muito experiente e mais focado na viticultura e na espumantização, António Selas. Um investimento significativo foi realizado na construção de uma gigantesca adega, pensada criteriosamente tanto em termos técnicos, quanto práticos e estéticos: arquitetura de primeira. O novo espaço inclui loja, sala de provas, sala para reuniões e eventos para 150 pessoas, e cave de envelhecimento de vinhos e de espumantes rigorosamente climatizada. Espumantes que, a propósito, tornar-se-ão uma especialidade da casa: “Queremos ser a referência em bolhas no Alentejo”, diz António Selas. Um olhar mais atento revela que ali terão todos os meios para desenvolverem uma enologia impecável, com esmerada seleção das melhores prensas, tanoarias de carvalho, ovos de betão, foudres e outras tendências atuais.

O portefólio da herdade é muito bem estruturado em quatro gamas de vinhos: Convés (branco, tinto, rosé e um óptimo espumante, na sua faixa de preço), Infantes (tinto e branco), a marca que atingiu notoriedade nos anos 80, e que foi agora totalmente renovada, Paço dos Infantes (rosé, Reserva Branco, Antão Vaz e Touriga Nacional) e, por fim, a gama de topo que leva o nome da propriedade, Herdade da Lisboa. Segundo Ricardo Silva, para esta gama “ultra premium”, a equipa técnica tem a missão desafiadora de engarrafar apenas o melhor de cada ano, independentemente de qualquer questão comercial. “Não estamos preocupados com a origem da casta, se é tinta ou branca, portuguesa ou internacional. O que procuramos é a casta que assumiu um papel preponderante e se expressou de forma excecional naquele ano, no nosso terroir”. Um conceito arrojado de uma coleção icónica de grandes vinhos, que podem sair apenas uma única vez para o mercado, e que responderam nesta primeira aventura por menos de 0,5% da produção total da casa.

Fomos convidados para a inauguração da marca institucional Família Cardoso, e também da marca Herdade da Lisboa, conduzida pelo diretor de projeto, Joaquim Cândido da Silva. Profissional de enorme experiência no mundo do vinho em Portugal, sobretudo na distribuição e no lançamento de inúmeras marcas que fizeram história no país, Joaquim revela que aceitou o convite quando sentiu o vulto do projeto: “O seu tamanho impunha uma estratégia de mercado”. Cercou-se de exímios profissionais na área comercial e de marketing. Sabe como poucos criar marcas de vinho, e tem na Herdade da Lisboa todas as mais-valias que precisa para já nascer na elite do Alentejo e do país.

Herdade da Lisboa 
7960-205 Vidigueira
W. https://www.facebook.com/herdadedalisboavidigueira