Nascida e criada no Porto, a Sovina mudou de mãos em 2018. O grupo Esporão avançou para a compra e hoje prepara um futuro diferente, com respeito pelo passado pioneiro. O portefólio que já vinha de trás mantém-se mas já há receitas novas. E sendo um membro da família Esporão, esperam-se muitas cervejas com sabor a vinho. Fábio Torre, o novo mestre cervejeiro, adianta em entrevista à Revista de Vinhos alguns planos e traça um cenário mundial das cervejas artesanais.
Em plena zona industrial do Porto, entre armazéns e uma avenida AEP quase sempre ruidosa, a Cerveja Sovina tem a sua base. A partir do Porto, assim nascida, para o resto do país onde comercializa todo o portefólio. Quem nos recebe é Fábio Torre, o novo mestre da cervejeira, num dia calmo e de início a tempo pós-confinamento. Os dois armazéns que a Sovina ocupa estão divididos entre a produção, onde estão os fermentadores e todo o material que permite fazer cerveja, uma zona de receção/escritório e uma zona de embalamento e de armazenamento.
A Sovina, recorde-se, foi pioneira. Fundada em 2009 por Alberto Abreu, Arménio Martins e Pedro Sousa, rasgou um caminho ainda muito verde em Portugal. A cerveja industrial dominava (e domina) mas há onze anos esse domínio era ainda maior e mais esmagador. O brasileiro Fábio Torre, chegado a Portugal há uns anos e já com um conhecimento relevante nesta área, foi na Sovina que teve o primeiro contacto com uma cerveja industrial. “Foi a Sovina Amber a primeira cerveja industrial que provei. Sei que parece bem dizer isto agora, que sou o mestre cervejeiro. Mas é absolutamente verdade. Provei a Amber e lembro-me de na altura já ter percebido que tínhamos ali uma cerveja interessante, que não tinha nada a ver com experiencialismos de garagem”, recorda Torre, que estava longe de imaginar que acabaria por se tornar responsável de produção da marca. “Na altura quis descobrir mais sobre a marca, isto é, que estrutura estava por de trás daquela marca. Porque sejamos francos: existem padarias com grandes recursos que fazem um pão mau; e existem padarias pobres com um pão delicioso. E no caso da Sovina pareceu-me haver um equilíbrio entre a produção e a estrutura”, afirma Fábio Torre.
A linha habitual e o que aí vem
A Sovina é já bem conhecida pelo portefólio fixo de seis cervejas, presentes em muitos pontos do país e sobretudo na região norte. Lager, Amber, Stout, Bock, Trigo e IPA. Estas duas já contam com lotes assinados pelo novo mestre cervejeiro (notas de prova ao lado) e as outras quatro seguirão o mesmo caminho em breve, fiéis ao estilo mas com receitas desenhadas a partir do zero. De novidades, estava previsto um novo lançamento para o mês de março último mas devido à pandemia isso não aconteceu. Ficou adiado mas é uma dos dez novos lançamentos que o público pode esperar da Sovina nos próximos tempos. “Serão edições limitadas, focadas numa lógica experimental e com uma mistura de estilos e uso de frutas”, descreve Fábio Torre. E vinho, perguntamos, agora que a Sovina faz parte do gigante Esporão. “Teremos uma Barley Wine, com 14% de álcool e um período de fermentação longo, de cerca de cinco ou seis meses. É um produto mais vínico”, adianta o cervejeiro. Na calha ainda está uma cerveja do tipo Sour, mais ácida, com envelhecimento em barricas de carvalho – “um tipo de vasilhame que não nos é propriamente difícil de conseguir”, brinca o cervejeiro que tem visto a ligação ao mundo do vinho no grupo como algo particularmente importante, assim como a troca de experiências e de conhecimento, em especial sobre fermentações.
A moda que não passou
Uma das perguntas mais frequentes no domínio das cervejas artesanais é se serão uma moda ou algo já estabelecido. Fábio Torre não tem dúvidas: “É uma ideia que está desfeita, essa de que as cervejas artesanais terão apenas uma dimensão pouco maior do que caseira. Basta olhar para o resto do mundo. Brasil, Estados Unidos e Alemanha são bons exemplos”, refere o cervejeiro que assegura que Portugal está a passar por todas as fases que estes mercados passaram: “Primeiro, uma leva aventureira e experimental que dá origem a uma segunda fase mais profissionalizada, mais consciente dos desafios. E esta dá origem a uma fase em que se separa o trigo do joio e todos os que ficam saem fortalecidos”.
A verdade é que o mercado das cervejas artesanais nos Estados Unidos, por exemplo, tem já uma quota superior a 20% e o Brasil tem conseguido também conquistar uma franja significativa ao mercado das cervejas industriais. Para o cervejeiro responsável pela Sovina, os restaurantes são uma peça-chave de formação de opinião. “Temos já algumas pessoas que estão com a ‘bandeira no ar’, a indicar o caminho. Já existem sommeliers de cervejas, cursos e toda uma equivalência (e cruzamento) com o mundo do vinho.
Apesar do ano não estar a ser favorável àquele que é o ‘habitat’ natural dos cervejeiros – os festivais, as boas conversas, o debate – a Sovina pretende manter os planos de 2020, com os novos lançamentos a chegarem ao mercado.
Sovina
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