PROVA DE ALVARINHOS

O tr(i)unfo da origem

 
Nuno Guedes Vaz Pires

Nuno Guedes Vaz Pires

A casta Alvarinho conquistou, por direito próprio, um lugar muito especial, de destaque entre os vinhos portugueses. O berço, na sub-região de Monção e Melgaço, continua a ser privilegiado para a elaboração dos exemplares mais cristalinos, os que revelam a casta de modo mais puro. É a grande conclusão que retiramos desta prova temática, que reuniu um total de 48 amostras de todo o país.


PAINEL DE PROVAS Célia Lourenço, José João Santos, Luís Costa, Nuno Guedes Vaz Pires


A partir de 2020/21 será possível produzir Alvarinho com uvas forasteiras à sub-região de Monção e Melgaço. A decisão, anunciada no arranque do ano 2015, resultou de um acordo entre produtores da sub-região e a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, tendo motivado discussões acesas durante alguns meses de negociação. E, apesar das contrapartidas estabelecidas (rotulagem específica para os vinhos da sub-região, obrigatoriedade de todos os lotes de Vinho Verde terem um mínimo de 51% de Alvarinho para usar o nome da casta com primazia no rótulo, entre outras), não houve unanimidade.

A casta Alvarinho é um património maior para a sub-região. Mais do que um cartão-de-visita, representa o prestígio de um vinho branco reconhecido pela generalidade dos consumidores, quase sempre pelos bons motivos. Não menos importante, a casta Alvarinho é, no histórico de anos, a mais bem paga aos viticultores portugueses. Um património, uma riqueza, mas nunca um exclusivo.

O que seria do mundo do vinho se o Cabernet Sauvignon ou o Chardonnay, só para citar dois exemplos maiores, se tivessem mantido como exclusivos de Bordéus e da Borgonha? Pois bem, apesar da globalização dessas castas, todos reconhecemos as características ímpares que ambas obtêm nos “terroirs” de origem. Esse, é o tr(i)unfo de Monção e Melgaço.

Sem preconceitos, a Revista de Vinhos – A Essência do Vinho desafiou os produtores de todo o país que estão a produzir Alvarinho a selecionar uma só referência de um vinho com pelo menos 85% da casta. De acordo com o prazo estabelecido para receção de amostras foram recebidas 48 referências: 25 da sub-região de Monção e Melgaço; 11 de outras sub-regiões dos Vinhos Verdes – vinhos Regional Minho e IG Minho; seis do Alentejo; três de Lisboa; uma do Douro; uma do Tejo; e uma da Península de Setúbal.  

Provados às cegas, os vinhos confirmaram que a casta Alvarinho resulta em bons varietais. Como seria de esperar, os representantes mais fiéis foram, em larga maioria, os vinhos da sub-região – e essa será sempre uma carta que os produtores locais poderão jogar, a da autenticidade. Nos melhores exemplos, as notas de fruta tropical (maracujá, abacaxi, líchia) integram-se bem com uma componente mais cítrica (de toranja e de lima), tendo por suporte uma acidez profunda e um toque de frescura granítica que eleva os vinhos a um patamar de muito boa qualidade. Todos, neste espetro, com o atributo suplementar de se apresentar como ótimos parceiros gastronómicos, em refeições mais leves ou mais condimentadas.   

Um outro patamar de vinhos aposta, sobremaneira, na facilidade, propondo-se para um consumo descontraído e quotidiano. Frescura e fruta, sobretudo.

Com sinal menos positivo, alguns vinhos provados revelaram estar excessivamente marcados pela madeira e, outros, sobrecarregados por sensações de fruta de caroço (pêssego, damasco) ou um tropical mais acentuado (banana, manga, papaia).

 

Amigos da carteira

 

O Alvarinho com nota mais elevada, já num patamar superior de 17 pontos em 20 possíveis, foi o Dom Ponciano 2016 (PVP, 9,50€, RE Vinhos), nativo das encostas de Paderne, Melgaço. Com uma muita boa performance, de 16,5 pontos, estiveram o Soalheiro Clássico 2016 (9,50€, Soalheiro Vinus, Melgaço), Poema Reserva 2014 (14,90€, Quinta do Louridal, Melgaço), VVB Alvarinho Deu La Deu 2015 (12€, Adega de Monção, Monção) e Quinta d’Amares Alvarinho 2016 (6€, Rendufe, Amares). Fora da extensa região dos Vinhos Verdes sublinhe-se a boa classificação, de 15 pontos, alcançada pelo Fiuza Estate Bottled Alvarinho 2016, do Tejo, e pelos alentejanos Senses Alvarinho 2015, Herdade das Servas Alvarinho 2015 e Cortes de Cima Alvarinho 2015. 

Esclareça-se ainda que da quase meia centena de vinhos avaliados, dois obtiveram uma classificação inferior a 13 valores, motivo pelo qual não são mencionados neste trabalho (a Revista de Vinhos apenas publica notas de valor igual ou superior a 13 pontos).

Por fim, uma observação relacionada com os preços dos vinhos provados. De entre os PVP indicados pelos produtores, o mais elevado não chega aos 18€! Sem dúvida, uma excelente notícia para todos os consumidores, tanto mais que a maioria dos vinhos provados fica aquém dos 10€. 

 

Os vinhos mais bem pontuados

 

17
Dom Ponciano 2016
Vinho Verde/ Branco/ RE Vinhos

Amarelo limão. Muito elegante, com notas contidas de lima e de toranja. Tem até alguma folha de chá verde. Fresco, com estrutura bem competente, acidez presente e grande profundidade. 
9,50 € 

 

16,5
Poema Reserva Alvarinho 2014
Vinho Verde/ Branco/ Quinta do Louridal (Poema)

Amarelo limão. Aromas vegetais e de gramíneas, num registo de elegância, onde também há limão e um pouco de toranja. Muito boa acidez e frescura, nota granítica e quase metálica. 
14,90 € 


16,5
Quinta d'Amares Alvarinho 2016
Regional Minho/ Branco/ Quinta de Amares

Amarelo limão. Notas de flores brancas, de alguma líchia e um vegetal em fundo. Na boca tem volume devidamente seguro por uma acidez competente. Termina persistente. 
6,00 € 


16,5
Soalheiro Clássico 2016
Vinho Verde/ Branco/ Soalheiro Vinus

Amarelo limão. Mais citrino do que tropical, com breve líchia e granito húmido. Muito bem focado, com acidez equilibrada e final bem conseguido. 
9,50 €

 

16,5
VVB Alvarinho Deu La Deu Reserva 2015
Vinho Verde/ Branco/ Adega de Monção

Amarelo limão. É elegante, não exuberante. Revela toranja e notas muito suaves de ananás e de maracujá. Fresco e bem integrado, num bailado de acidez e fruta, num bom final. 
12,00 €

 

16
Quinta das Pereirinhas Alvarinho Superior 2016
Vinho Verde/ Branco/ Quinta das Pereirinhas Alvarinho

Amarelo limão. Muito fiel ao que um Alvarinho pode ser, com componente de flores brancas e um sublinhado de líchia e de ananás. Elegante e consistente, com final profundo e alguma pedernã. 
6,50 € 


16
Regueiro Alvarinho Barricas 2015
Vinho Verde/ Branco/ Quinta do Regueiro

Amarelo limão. Nariz de pêssego, damasco, líchia, alperce, ligeira rosa. A madeira está bem integrada, a fruta mantém-se até resultar num final feliz, muito fresco e bem conseguido. 
16,00 € 


16
Tapada do Marquês Alvarinho 2016
Vinho Verde/ Branco/ Campelo Vinhos

Amarelo limão. Muito correto, com jasmim e lima. Na boca tem frescura e é, sobretudo, bastante elegante. Tem profundidade. 
6,50 €

 

15,5
Estreia Alvarinho reserva 2015
Vinho Verde/ Branco/ Adega Cooperativa Ponte da Barca

Amarelo limão. De nariz contido, tem um perfume ligeiro de flores brancas, um pouco de líchia e folha de tomate. Na boca tem um perfil gastronómico, com mais polpa de fruta branca. 
5,99 €  

 

15,5
Portal do Fidalgo 2016
Vinho Verde/ Branco/ Provam

Verde limão. Nariz de flor de laranjeira, de nectarina e tangerina, líchia e breve maracujá. Nada está exagerado. Na boca é fresco e com acidez no ponto. Final bom. 
7,99 € 


15,5
Quinta das Alvaianas Alvarinho Biológico 2016
Vinho Verde/ Branco/ Alvaianas

Amarelo limão. Nariz elegante, com alguma lima, flores brancas, líchia. Tem acidez bem esculpida e um final algo vegetal mas bem agradável. 
9,50 € 


15,5
QM Vinhas Velhas Alvarinho 2015
Vinho Verde/ Branco/ Quintas de Melgaço 

Verde limão. Aromas elegantes de flores brancas, de lima e de limão, de toranja. Na boca é sobretudo fresco, com nuances de pedra molhada. 
17,90 € 


15,5
Valados de Melgaço Alvarinho Reserva 2015
Vinho Verde/ Branco/ Valados de Melgaço

Verde limão. Aromas de maracujá e de lima, de acácia e de folha de laranjeira. Na boca é fresco e com uma sensação granítica final. 
10,90 € 


15
Alvarinho Messala 2016
Vinho Verde/ Branco/ Grande Porto – Messala Vinhos

Verde limão. Aromaticamente no ponto, com nariz de rosas, de líchia e de groselha. Tem frescura e acidez, com uma breve doçura em fundo. Prazenteiro. 
6,99 € 


15
Aveleda Reserva da Família Alvarinho 2015
IG Minho/ Branco/ Aveleda

Amarelo limão. Aromas de tosta, apontamentos de líchia, polpa de uva branca. Mais fresco na boca, com definição e acidez conseguidas. Final bem agradável. 
9,99 € 


15
Borges Alvarinho 2016
Vinho Verde/ Branco/ Vinhos Borges

Amarelo limão. Revela ameixa branca, lima, maracujá. Na boca alia cremosidade à tropicalidade, revelando uma frescura final que o ajuda. 
8,99 €


15
Cortes de Cima 2015
Alentejo/ Branco/ Cortes de Cima

Dourado. Notas de tostados, de banana, de damasco e de coco. Registo doce, com madeira igualmente vincada e uma acidez que o ajuda a amparar tudo. 
10,00 €


15
Dom Diogo Alvarinho 2016
Regional Minho/ Branco/ Quinta da Raza

Verde limão. Aromas de banana seca, de maracujá e de lima. Com frescura e uma acidez afirmativa, mostra uma componente mais vegetal no final. 
7,45 € 


15
Encosta da Capela Reserva 2016
Vinho Verde/ Branco/ José Manuel Fernandes

Amarelo limão. Muito aromático, com ananás, maracujá, líchia e rosas. Tem bastante frescura, mantém a componente frutada e é bastante indicado para finais de tarde solarengos.
7,50 € 


15
Herdade das Servas Alvarinho 2015
Alentejo/ Branco/ Herdade das Servas

Dourado. Fumados e créme brulée, líchia. Alguma doçura na boca, sensação de mel e uma frescura final que ajuda a tudo. 
12,00 € 


15
Fiuza Estate Bottled Alvarinho 2016

Tejo/ Branco/ Fiuza & Bright

Amarelo limão. Nota de madressilva, de ameixa branca e de lima. Mais incisivo na boca, com acidez vincada e um final bem agradável, em registo de frescura.
6,50 € 

 

15
João Portugal Ramos Alvarinho 2016
Vinho Verde/ Branco/ Vila Santa

Amarelo limão. Nariz de banana da Madeira, manteiga, baunilha, tília, nectarina. Fundo ligeiramente fumado. Fresco e fácil de beber, com acidez correta. 
9,99 € 

 

15
Quinta da Calçada Alvarinho 2016
Regional Minho/ Branco/ Agrimota - Quinta da Calçada

Verde limão. Nariz de lima e de raspa de limão. Leve e fresco, de ataque ligeiramente doce, a lembrar clementina. Final agradável para um consumo descontraído. 
7,99 €


15
Quinta do Mascanho Colheita 2016
Vinho Verde/ Branco/ Ceivinhas, Soc. Vit.

Verde limão. Muito bem feito, direto, com raspa de limão, limão, groselha verde. Num registo fácil e sedutor, é elegante, fresco e com acidez no ponto correto. 
6,95 € 


15
Quinta de Santiago 2016
Vinho Verde/ Branco/ Nenúfar Real

Amarelo limão. Tem flores brancas e breves rosas, alguma lima e líchia. Leve e elegante, combina frescura, alguma doçura e facilidade de prova. 
9,90 € 


15
Reguengo de Melgaço 2016
Vinho Verde/ Branco/ Hotel Reguengo de Melgaço

Amarelo limão. Bem aromático, na esfera das frutas tropicais – ananás, maracujá, líchia. Equilibrado e direto, bem feito.
9,50 € 


15
Senses Alvarinho 2015
Alentejo/ Branco/ Adega de Borba

Amarelo limão. Notas de balsâmicos, ligeiro apetrolado, lima, melão maduro. Na boca tem volume e deixa um curioso final de maçã verde. 
5,49 €


15
Solar das Bouças Alvarinho 2015
Vinho Verde/ Branco/ Solar das Bouças

Amarelo limão. Apresenta-se com alguma madressilva, toranja, lima e limão. Na boca tem frescura e um pouco de líchia mas, sobretudo, uma acidez bem conseguida e um final granítico. 
6,00 €