Estômbar, Lagoa. À medida que nos aproximamos da Quinta dos Vales deparámo-nos com um conjunto disperso de esculturas de dimensão generosa que entrecortam a paisagem de vinhas. As que revelam corpos femininos chamam-se Grace. Todas são elaboradas em poliéster e fibra de vidro, ocas no interior, nunca pesando mais do que 20 kg. Por isso podem ser facilmente transportadas por diversos pontos da quinta havendo uma derradeira curiosidade: nos dias de vento mais forte vão rodando sobre a base, proporcionando diferentes exposições no cenário.
Karl Heinz Stock é o autor da esmagadora maioria destas esculturas. É também, desde 2016, o proprietário da Quinta dos Vales. Conheceu o Algarve em 1996, em férias com a mulher. Ao segundo dia de visita adquiriu casa e a partir daí a ligação à região tornou-se constante. Durante vários anos conseguiu repartir o quotidiano entre Portugal e Moscovo, onde trabalhava, mas a partir do momento em que se reformou mudou-se de vez para Portugal. Recebe-nos o filho, Michael Stock, cada vez mais inteirado do negócio. Conta-nos que o pai ainda tentou dedicar-se a passatempos nos inícios da reforma, mas o bichinho empreendedor acabaria por levá-lo a uma nova vida profissional – a produção de vinho.
A Quinta dos Vales possui uma área total de 44 hectares, metade vinha. As cepas mais antigas, com duas dezenas de anos, são de Castelão e de Cabernet Sauvignon. Muitas outras variedades estão plantadas, facilitando a elaboração de uma montra que ascende a 40 referências. Arinto, Verdelho, Touriga Nacional, Touriga Franca, Syrah (incluindo um curioso “blanc de noirs”) são os monocastas, nem sempre lançados todos os anos.
Com uma componente vincada de enoturismo, uma boa parte do vinho elaborado é vendida por ali mesmo. A maioria circula pela região, 25% pela Alemanha, China e Canadá, os principais destinos de exportação. A vindima é exclusivamente manual, com seleção criteriosa no tapete de escolhas. A enologia tem por consultor Paulo Laureano e o acompanhamento diário de outra alentejana, a enóloga Marta Rosa. “Procuramos respeitar ao máximo o potencial da uva e das castas”, garante-nos.
Datada dos anos 40 do século passado, a Quinta dos Vales apenas começou a ter vinha nos anos 80. Aliás, o enquadramento de árvores de fruto parece refletir-se em vinhos que se revelam bastante aromáticos.