Tintos de Topo

Fotografia: Ricardo Garrido
Marc Barros

Marc Barros

Eis 41 tintos topo de gama que se perfilam para momentos de degustação e enorme prazer.


NOTAS DE PROVA Alexandre Lalas, Célia Lourenço, Guilherme Corrêa, Luís Costa, Manuel Moreira e Nuno Guedes Vaz Pires

 

Este é talvez o segmento em que o universo nacional dos vinhos mais evoluiu na sua já respeitável tradição. Se, até aos anos 90, eram poucos os tintos verdadeiramente assinaláveis como sendo de topo, a partir desta década, a revolução dos vinhos nacionais, acompanhada do enorme salto dado pela ciência da viticultura em Portugal, permitiram criar cada vez mais e mais vinhos de categoria superior, verdadeiros topos de gama que refletem expressão e identidade, carácter e terroir.
E se, à data, como todos certamente recordarão, os tintos de categoria superior eram-no quanto maior a extração, potência, concentração e utilização de madeira nova, num estilo que ficou conhecido como a ‘parkerização’ do vinho (seguindo os ditames do todo poderoso crítico norte-americano Robert Parker), a passagem dos anos moldou e amenizou o carácter dos tintos produzidos de então para cá. Hoje não se pede extração, antes frescura e elegância; não se quer potência, antes delicadeza de estrutura e taninos.
Por outro lado, Portugal continua a fazer valer a diferenciação pela enorme variedade de castas autóctones, marcando de certa forma o carácter e identidade dos vinhos nacionais à escala global. Portugal foi, é e será um país de vinhos de lote. Sejam estes desenhados na adega ou, cada vez mais, na vinha. Todas as regiões nacionais primam pela arte de utilizar em conjunto as suas castas de referência, pelo que (e como esta prova atesta) são os vinhos de “blend” que marcam a diferença e resultam num puzzle que cada vez mais os enólogos portugueses dominam com mestria.


Uma outra característica dos vinhos tintos de topo é a sua capacidade de envelhecimento. A barreira da primeira década em garrafa é ultrapassada com cada vez maior facilidade pelos vinhos portugueses, provando ainda que frescura e elegância não são antónimos de longevidade. Longe dos tempos em que os vinhos de mesa nacionais, sobretudo das regiões da Bairrada e Dão, eram, nos primeiros anos após engarrafamento, proezas tânicas capazes de ‘aniquilarem’ os mais duros dos palatos, atualmente os tintos jovens dão-se ao consumo imediato, sendo certo que durarão muitos anos em garrafa, como podemos constatar em alguns exemplares desta prova.

A (r)evolução dos tintos

Duas regiões foram as principais responsáveis por esta (r)evolução. Alentejo e Douro, primeiro de forma tímida, mas sobretudo a partir do final dos anos 90, foram as locomotivas que puxaram as carruagens de outras regiões, com novos perfis de vinhos, estilos e mercados. Esta recuperação fez-se, em certa medida, à custa do declínio das regiões que até então produziam os melhores vinhos de mesa em Portugal.
Dão e Bairrada souberam, no entanto, readaptarem-se, procurarem novos estilos e formatos dentro das suas características endógenas e vinificação das castas autóctones, e estão hoje a par das acima mencionadas. Porém, outras regiões, como Tejo e Lisboa, Setúbal e Beira Interior, surgem já a desafiar a hegemonia dos tintos, contribuindo desta forma para um mapa vitícola mais heterogéneo e rico. Os modelos de vinificação, por sua vez, aproximam-se igualmente de novas tendências. A talha, por exemplo, ganha um papel especial na produção destes vinhos, recuperando técnicas e vivências ancestrais que asseguram identidade ao terroir. 
A Revista de Vinhos elaborou uma lista de possíveis sugestões de tintos topo de gama. Contas feitas, são elencados 41 vinhos das várias regiões portuguesas. E se Douro e Alentejo fazem valer os seus galões e apresentam uma maior quantidade de vinhos com notas elevadas, Dão e Bairrada não deixam os seus créditos por mãos alheias, tal como Tejo e Lisboa. Realce ainda para o facto de uma parte substancial destes vinhos apresentarem preços perfeitamente ao alcance das bolsas, tendo em conta o seu elevadíssimo valor qualitativo. Nós, claro, agradecemos… No topo dos topos, destaque para 10 vinhos, com 18,5 pontos. Seguem-se 31 vinhos com 18 pontos. Mais palavras para quê?

Notas de prova

18,5
Conde de Vilar Seco Touriga Nacional Garrafeira  
Dão / Tinto / Quinta da Fata

Rubi fechado. Um grande vinho de Portugal, que revela todo o potencial do Dão. Classicismo e autenticidade. Emana frutas silvestres negras e vermelhas, intercaladas com impressões balsâmicas, fumadas de lareira, de especiarias, granito molhado, num perfil complexo e sedutor. Arquitetura sólida mas elegante, aérea, uma catedral gótica de taninos finíssimos para vencer décadas de evolução. Grande “mouthfeel” e fim-de-boca. 
Consumo: 2018 – 2035
25,00 € / 16ºC

18,5
Giz by Luís Gomes Vinha das Cavaleiras Tinto 2016 
Bairrada / Tinto / Luís Gomes 

Belíssima tonalidade rubi de média compleição. Nariz muito rico, de finesse e profundidade, repleto de camadas. Bagas silvestres, violeta seca, especiarias a recordar açafrão, avelã, tudo muito refinado e com carácter. Numa segunda vaga surge o herbal, balsâmicos, algo de exótico e forte sugestão mineral. A boca é monumental pela precisão da estrutura, taninos refinados mas tensos e verticais, cereja, framboesa e groselha que enchem de sabor o médio palato. Frescura vibrante, tensão constante, final perfumado, refinado, profundo e longo.
Consumo: 2019 – 2030
28,00 € / 16ºC

18,5
Palácio dos Távoras Gold Edition 2015
Trás-os-Montes / Tinto / Costa Boal

Vinho de uma cor viva e brilhante, contido e elegante no nariz com notas de groselha, amora silvestre e cereja vermelha, onde se conjugam com os aromas mais terrosos e de alguma apara de lápis e tinta-da-china. Tem um lado mais vegetal muito subtil que combina na perfeição com as notas de especiarias e ligeiro fumado. Na boca é um vinho que prima pelo equilíbrio, pela afinação e pela harmonia que apresenta. O tanino é de uma finesse e textura impressionante e o corpo é volumoso e rico. Este é um punho de ferro numa luva de veludo com uma longa vida pela frente. O lote final foi elaborado pelo enólogo Paulo Nunes.
Consumo: 2018 - 2025
85,00 € / 16ºC

18,5
Procura Vinhas Velhas 2014
Alentejo / Tinto / Susana Esteban

Rubi. Aromas complexos, sofisticados e sedutores a fruta preta, bolo inglês, chocolate, balsâmicos e especiarias. Na boca mostra volume e amplitude, bela acidez, grande equilíbrio, estrutura, taninos firmes e enorme persistência. Este vinho (ainda) tem arestas? Tem sim senhor. Mas são fantásticas e dão-lhe nervo, textura, personalidade e dimensão.
Consumo: 2018 - 2026
30,00 € / 16ºC

18,5 
Quanta Terra Manifesto 2015
Douro / Tinto / Quanta Terra

Se fosse uma música, este vinho seria puro e genuíno rock'n'roll. Daqueles carregados nos grave e agudos, onde o equilíbrio vem dos excessos. É tenso como Kashmir, dos Led Zeppelin. Ácido como Money, dos Pink Floyd. Envolvente como Modern Love, de Bowie. Na verdade, esse vinho é quase um baile. A cada gole, dá vontade de dançar pela sala. 
Consumo: 2020 - 2028 
50,00 € / 16ºC

18,5
Quinta da Vegia Superior 2013
Dão / Tinto / Casa de Cello

Vermelho acastanhado. No nariz, de enorme complexidade, é pura sedução: fruta em compota, vapor de café, menta, chocolate, trufa, aromas de pinhal (caruma, pinha). A boca é sinónimo de elegância: camadas de sabores, taninos finíssimos, bela estrutura, acidez irrepreensível, enorme persistência. Um grande exemplo do que pode ser o Dão.
Consumo: 2018 - 2025
50,00 € / 16ºC


18,5
Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas 2015
Douro / Tinto / Quinta do Crasto 

Vinho produzido a partir de uvas retiradas de 42 blocos, incluindo as vinhas Maria Teresa e Ponte. Nariz intenso e muito frutado, elegante e fresco, volume e estrutura, um grande exemplar do loteamento na sua complexidade e riqueza. Boca fresca, com grande carácter, longo e especiado. Um grande vinho que pode guardar alguns anos.
Consumo: 2018 - 2026
29,00 € / 16ºC

18,5
Quinta de S. José Grande Reserva 2014
Douro / Tinto / Quinta de S. José

Vinho de vinhas velhas com sensivelmente 80 anos, e também um pouco de Sousão, apresenta-se em tonalidade rubi densa e profunda. Aromas de enorme complexidade: fruta preta, fruta vermelha madura, ginja, notas fumadas, esteva, caruma e urze, tudo numa envolvência mentolada. Na boca é enorme, volumoso, com enorme projeção, estrutura e taninos poderosos mas domados, o que torna o vinho sedoso no palato, embora com muitos anos pela frente. Um exemplo do Douro moderno.
Consumo: 2018 - 2030
45,00 € / 16ºC

18,5
Quinta dos Murças VV47 2013 
Douro / Tinto / Murças 

Cor violácea, de grande concentração. É um vinho com um lado misterioso muito sedutor. O nariz tem notas balsâmicas, notas de mato, algum chá, flores secas e a fruta está muito escondida. A boca é enigmática, sedosa, longa. Descobrem-se notas de ginja e chocolate negro. Tem frescura, charme e equilíbrio, tudo com grande profundidade. O tempo só o pode transformar num vinho ainda melhor. 
Consumo: 2018 - 2028
70,00 € / 16ºC

18,5
Quinta Nova Referência Grande Reserva 2016
Douro / Tinto / Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo

Rubi. Nariz com predomínio de mirtilo e amora preta, muito frutado e mineral. Tem imensas especiarias (pimentão doce, canela, algum cravinho) e nota balsâmica muito agradável. Os taninos são finos e elegantes. Boca muito fresca, imensa estrutura, com um toque metálico a dar-lhe tensão no final. Um belíssimo vinho tinto, uma “referência” da Quinta Nova. 
Consumo: 2018 - 2030
55,00 € / 16ºC