“Melting” – derreter, numa tradução não contextualizada da palavra. Ora, no quadro que nos interessa será mais prudente optarmos pela expressão “melting point”, ponto de fusão que da química poderemos extrapolar para a gastronomia ou mesmo para o pensamento. É certamente um pouco de tudo isso que está a ser cozinhado pela AGAVI – Associação Para a Promoção da Gastronomia e Vinhos, Produtos Regionais e Biodiversidade, entidade organizadora do primeiro “Melting Gastronomy Summit” que terá lugar na Alfândega do Porto, de 14 a 16 de novembro. “Era a hora de Portugal se poder afirmar como o grande convocador mundial de um summit sobre as políticas do alimento para os próximos anos”, diz-nos António Souza-Cardoso, presidente da AGAVI.
Durante três dias, um intenso programa de ações reunirá grandes nomes, por entre painéis de reflexão e debate, apresentações de projetos e ideias de negócio, mercado de produtos, provas enogastronómicas, almoço e jantares – neste último caso, incluindo um jantar que será confecionado por oito chefes de cozinha convidados.
“Não quisemos que o Melting fosse apenas um congresso”, explica Souza-Cardoso, “achamos que pode ser o início de um movimento”. Um movimento abrangente, que congregue vontades e instituições, empresas e protagonistas.
O objetivo passará por realizar o “Melting” a cada dois anos, estando o restante calendário sinalizado com diferentes iniciativas de divulgação e promoção de produtos, de territórios e de sustentabilidade alimentar. A AGAVI candidatou a financiamento comunitário um programa que recria as viagens do navegador Fernão de Magalhaes, a pretexto das celebrações dos 500 anos da primeira viagem de circum-navegação. Coincidindo com o circuito do navio-escola Sagres, pretende-se divulgar Portugal, a gastronomia portuguesa e a influência lusa por Sevilha (2020), Chile, Japão e Cabo Verde.
Ainda no “Melting” será apresentado o projeto de candidatura da dieta atlântica a Património Imaterial da UNESCO, uma parceria de nove instituições portuguesas e galegas num processo de candidatura que deverá ficar concluído até 2021 e que futuramente pretende também abranger países do norte da Europa.
“As novas gerações, que gostam tanto de comer como as anteriores, preocupam-se hoje com outras dimensões – o comer bom, o comer justo, o comer limpo. São as três dimensões que me parecem muito interessantes no alimento e que as novas gerações têm interpretado muito bem”, sublinha António de Souza-Cardoso.
De 2010 a 2018, as exportações portuguesas do setor agroalimentar cresceram 56%, um dado recordado pelo organizador do “Melting” que expressa um derradeiro desejo nesta reta final de preparação do evento: “Gostávamos que todos se sentissem envolvidos nisto e ficassem mais informados dos caminhos que a gastronomia portuguesa deve trilhar e das bandeiras que devemos erguer quando fazemos um movimento aspiracional como pretendemos que o Melting venha a ser”.