O programa de televisão sobre vinho mais famoso do mundo vai dedicar uma temporada de sete episódios a Portugal. Emitido em mais de uma centena de países, “The Wine Show” soma uma audiência global estimada em mais de 30 milhões de pessoas e um retorno de investimento mediático calculado em mais de sete milhões de euros. Aos atores Matthew Rhys, Matthew Goode e James Purefoy juntam-se especialistas também consagrados – Jancis Robinson MW, Amelia Singer, Joe Fattorini.
Foi precisamente este último que esteve à conversa connosco, explicando o objetivo de realizar as gravações no segundo semestre deste ano para que a difusão se concretize em 2020.
A temporada “The Wine Show” em Portugal será uma co-produção Revista de Vinhos e Infinity Creative Media para levar os vinhos portugueses ao mundo, num formato que o mundo os entenda.
Para quem ainda não viu o “The Wine Show”, quem são os grandes protagonistas e qual é o formato desta série televisiva?
O “The Wine Show” consiste em dois, três amigos que viajam juntos pelo mundo do vinho. Não se trata de alguém a dizer: “Tens que saber isto sobre vinho!”. Temos dois atores, Matthew Rhys e Matthew Goode, agora também James Purefoy, que são pessoas normais como qualquer um de nós, que gostam de ir a locais bonitos e saber mais sobre os vinhos desses locais. Eu sou um conselheiro de vinhos, tal e qual como o funcionário de uma garrafeira. Aconselho a provarem alguns vinhos porque sei que vão gostar.
Divertimo-nos imenso.
A forma como o programa está pensado e o facto de os protagonistas não serem apenas especialistas em vinho ajuda a “agarrar” o telespetador?
O que é fascinante para mim no programa é que me colocam as questões das pessoas “reais”. Não são questões técnicas acerca do solo ou mesmo acerca das castas. São questões do tipo: “Porque é que gosto deste vinho? Porque acho este vinho mais desafiador que o outro? Porque é que nunca provei isto antes? Com que é que este vinho vai bem ou como o serviria?”. Isso são questões da vida real. Como comerciante, conselheiro e especialista em vinhos tenho que recuar. Se me perguntassem o solo que está na origem, sabia-o muito bem.
É muito mais difícil explicar por que razão alguém gosta de um determinado vinho e não tanto de outro. Mas essas são as questões que as pessoas reais querem ver respondidas. Elas também pretendem saber as histórias. As pessoas adoram saber quem fez o vinho, porque o fez e é tão importante. Quais são as histórias que os vinhos podem revelar.
E os vinhos portugueses têm grandes histórias por revelar…
Em Portugal há histórias fascinantes, com as quais estamos familiarizados, relacionadas com os vinhos fortificados, mas muito mais entusiasmante para nós são os novos vinhos tranquilos, brancos e tintos. É uma questão de perceber por que razão ainda não os descobrimos, como os posso entender. E se gosto de um vinho do Chile, de Itália ou de Espanha, que tipo de vinhos vou apreciar quando viajar pelo Alentejo ou pela Bairrada?
Portugal será toda uma nova série do programa…
Baseamo-nos numa cidade, num local. Na primeira série fomos a um local óbvio, Itália. Na segunda série fomos até França. Agora pretendemos ir até um local que talvez seja menos óbvio para algumas pessoas mas muito mais interessante para nós, Portugal.
O segredo do sucesso do “The Wine Show” está na forma como consegue comunicar o vinho junto do grande público?
Nós acreditamos que somos bons, e parece que o conseguimos, a contar histórias que interessam às pessoas, independentemente de gostarem ou não de vinho. É engraçado, conheço um príncipe árabe, que não bebe vinho de todo, mas que me diz que as histórias são tão boas a ponto de o motivarem a ver o programa, os locais bonitos que apresenta. O que é fascinante em Portugal é o facto de ainda existirem muitas histórias por contar. Muitas histórias que as pessoas desconhecem acerca das diferentes regiões e do seu passado.
Quando não está entre gravações ou a preparar-se para gravações do “The Wine Show”, como é o seu quotidiano?
Trabalho na mais antiga cadeia retalhista de vinhos de Inglaterra, a Berry Bros & Rudd, em St. James street, Central London. Fornecemos a Casa Real, por exemplo. E para hotéis e restaurantes fornecemos também bons vinhos portugueses. Durante alguns anos fui jornalista especializado em vinhos e colaborei com diferentes publicações. Agora, sou um comerciante de vinhos normalíssimo, o que de certo modo me ajuda, na medida em que o meu trabalho é falar com pessoas “normais”, com carteiras “normais”, que compram vinhos “normais”. Elas são as pessoas que realmente compram vinho. Como jornalistas de vinhos, por vezes falamos com pessoas incrivelmente conhecedoras, que têm grandes garrafeiras, mas são um grupo muito restrito. Nós queremos falar de vinho com o mundo, não apenas com os 5% que compram publicações especializadas e com quem provavelmente já todos falaram.