Quatro décadas volvidas sobre o início da produção de vinhos em nome próprio, o percurso do produtor bairradino Luís Pato foi celebrado no documentário Pato Pathos, estreado no âmbito do festival de cinema documental Porto/Post/Doc. A sessão, que decorreu na recém-reaberta sala de cinema Perpétuo Socorro, datada de 1966, contou ainda com um jantar que teve lugar na própria sala de cinema. As propostas gastronómicas, de perfil bairradino, estiveram a cargo dos chefes Tânia Durão (Atrevo) e Ricardo Nogueira (Mugasa), acompanhados de vinhos do produtor.
O documentário, da autoria de Cunha Pimentel, faz por merecer o título – ao Pathos corresponde a paixão e o afeto do impulso que lhe está na origem, desde logo pela filha Maria João. Estruturado em torno de quatro capítulos, cada um é dedicado a uma década do percurso do “Senhor Baga”. Neste caminho, o próprio explica várias das inovações que aportou aos seus vinhos e à região, como a vinificação de uvas sem engaço, o estágio em barricas novas de carvalho francês, entretanto posto de parte, os primeiros “pé-franco”, o aproveitamento das uvas deitadas ao chão na monda para elaboração de espumantes, alguns dos quais já sem adição de sulfuroso, os ‘single vineyard’, como Vinha Barrosa, Vinha Barrio, Vinha Pan, Vinha das Valadas, Quinta do Ribeirinho Pé Franco e Vinha Formal e a mais recente incursão no mundo dos vinhos de intervenção mínima e a viticultura sem recurso a fitofármacos.
Em 40 minutos, ficamos a conhecer não apenas um pouco mais da vida de Luís Pato, como somos convidados a entrar na intimidade familiar, através dos depoimentos da esposa (que aproveita o ensejo para convidar o marido a ficar mais por casa…) e das filhas Filipa, Luísa e Maria João, e a apreender o respeito e amizade devotados ao produtor por parte de nomes como Jancis Robinson ou o brasileiro Ciro Lilla.
O filme transporta-nos igualmente, numa linha paralela, pela evolução do mundo do vinho em Portugal, levados pela mão de um dos seus pioneiros e protagonistas. E transmite o amor de Luís Pato à Bairrada – mesmo que com arrufos temporários - e à casta Baga. No debate que se gerou após a sessão, Luís Pato foi questionado sobre a virtude de um pequeno país, com a maior densidade de castas autóctones do mundo, poder vir a ser copiado: “Espero que nos copiem; assim, seremos a referência”. Como exímio contador de histórias que é, Luís Pato enche o filme com a sua bonomia, em episódios, narrados pelo próprio ou pelos mais próximos – pois, como afirma Luís Pato, “o vinho precisa de histórias”. Mas, sem bons vinhos, não há história que valha.