Vindima deverá render menos 8%, adianta IVV.
A vindima de 2024 em Portugal deverá registar uma produção de menos 8%, segundo as previsões iniciais do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) na sua primeira estimativa oficial. Este órgão setorial antecipa, após consulta às entidades mais representativas de cada região, um volume de 6,95 milhões de hectolitros.
Se estas previsões preliminares se concretizarem, as quebras de produção serão bastante generalizadas, com perdas em 10 das 14 regiões produtoras portuguesas. Apesar destas perdas de produção, o IVV destaca que a campanha 2024/25 se manterá dentro dos parâmetros de volume médio das últimas cinco campanhas. Estes dados parecem divergir das primeiras leituras recolhidas pela Revista de Vinhos junto de produtores de diversas regiões e, mesmo no Douro, a ADVID havia já apontado um aumento de produção, para um total entre 232 mil a 264 mil pipas, ou seja, 127 a 145,2 milhões de litros. A verificar-se esta quebra generalizada, o país começará uma operação de limpeza de stocks, que se juntará à próxima destilação de crise, podendo desta forma ajustar as existências às necessidades de mercado.Recorde-se que, segundo a Direção-Geral de Agricultura da Comissão Europeia, à entrada da vindima, e a nível nacional, a disponibilidade total ascendia a 20,269 Mhl., dos quais 10,984 Mhl. são vinhos com DO e 5,862 Mhl. com IG (a campanha de 2023/2024 redundou em 7,542 Mhl.).
Os dados recolhidos pelo IVV indicam que a instabilidade meteorológica observada ao longo do ciclo vegetativo da videira favoreceu o desenvolvimento de doenças, nomeadamente o míldio. No entanto, as condições meteorológicas até à colheita determinarão a quantidade e a qualidade da colheita.
As regiões de Lisboa (-15%) e Alentejo (-10%) são aquelas que, face à última campanha, registam maiores quebras de volume. Na região de Távora-Varosa não são esperadas alterações na produção, enquanto nas regiões da Beira Interior, Trás-os-Montes e Algarve a previsão é de aumentos face ao ano anterior. O Douro, principal região produtora, deverá registar um decréscimo de 5%, para 1,48 Mhl. Queda semelhante à esperada para os Verdes.
Assim, e por regiões:
VERDES - quebra na produção de 5%. O aumento das temperaturas médias e precipitação, face a 2023, favoreceram o desenvolvimento vegetativo, mas aumentaram a incidência de míldio e Black Rot. O ciclo vegetativo teve um abrolhamento precoce, mas devido às baixas temperaturas ocorridas em maio houve um atraso na floração, o que originou problemas de bagoinha e desavinho.
TRÁS-OS-MONTES - aumento na produção de 8%. A primavera foi quente e chuvosa, com muita precipitação em março. A baixa precipitação e as baixas temperaturas de abril a junho limitaram as infeções de míldio pelo que se prevê uma produção com uvas em muito bom estado sanitário.
DOURO - diminuição da produção de vinho de 5%. Devido ao inverno chuvoso e a um início de primavera em que choveu acima da normal climatológica, a água não foi um fator condicionante ao desenvolvimento das videiras. As boas condições verificadas no período da floração promoveram um bom vingamento dos cachos e dos bagos. Verificaram-se alguns episódios de míldio tardio e mais recentemente algum escaldão.
BAIRRADA - decréscimo de 15%. A vinha apresenta bom desenvolvimento vegetativo. Ocorreram alguns ataques de míldio e de oídio, sobretudo em abril, que poderão contribuir para uma quebra na produção. Prevê-se uma antecipação das vindimas em oito dias.
DÃO - diminuição de 15%. O míldio, apesar dos tratamentos efetuados, provocou alguns prejuízos. O fenómeno do desavinho, devido às chuvas durante a floração, teve como consequência um menor número de inflorescências. Estima-se que as vindimas tenham um atraso em oito dias.
BEIRA INTERIOR - aumento de produção de 15%. As condições climatéricas têm sido favoráveis ao desenvolvimento vegetativo das videiras, no entanto, a precipitação ocorrida sobretudo em junho, tem favorecido a instalação de míldio e oídio nas vinhas menos protegidas por falta de tratamentos preventivos. As vindimas poderão ter um atraso que se estima em oito dias.
TÁVORA-VAROSA - a previsão aponta para uma produção semelhante à campanha passada. Na generalidade, as uvas apresentam bom estado sanitário e perspetiva-se uma boa qualidade, no entanto verificou-se algum desavinho e bagoinha devido às baixas temperaturas e pluviosidade ocorridas na floração.
TEJO - quebra de 5%. Perspetivava-se uma produção superior à do ano passado, mas os fortes ataques de míldio travaram essa estimativa. A precipitação ocorrida na altura da floração originou fenómenos de desavinho e bagoinha. Com um bom controlo das pragas (cicadela e traça da uva) prevêem-se uvas sãs na altura da vindima.
LISBOA - diminuição de 15%. Em diferentes ocasiões as condições meteorológicas favoreceram ataques de míldio, algum dele tardio e também muito oídio. Devido à alternância produtiva, há um menor número de cachos por videira. Perspetiva-se a boa qualidade das uvas.
PENÍNSULA DE SETÚBAL - quebra de 5% na produção. No final de maio, a precipitação e temperaturas elevadas promoveram ataques de míldio. Em termos qualitativos, prevê-se uma boa qualidade quer nas uvas brancas quer nas tintas.
ALENTEJO - decréscimo de 10%. Algumas vinhas sofreram impactos negativos devido a ataques de míldio. Em maio, junho e julho registaram-se temperaturas acima dos 35ºC que causaram escaldão e desidratação das uvas. Prevê-se uma antecipação do início da vindima.
ALGARVE - aumento de 7%, impulsionado pela entrada em produção de novas vinhas com uva de qualidade e boa maturação. A rega localizada e a precipitação ocorrida na primavera acabaram por beneficiar o desenvolvimento das videiras. Em termos fitossanitários observaram-se focos de míldio nas fases da floração e alimpa que foram controlados e sem grande impacto na produção.
MADEIRA - redução da produção na ordem de 14% em relação ao ano anterior. Na generalidade, as vinhas encontram-se em bom estado fitossanitário perspetivando-se uma boa vindima ao nível qualitativo.
AÇORES - quebra da produção em 15%. Durante o período da floração verificou-se a ocorrência de longos períodos de chuva e vento intenso que provocaram a destruição da alguma produção. Houve grande incidência de míldio, devido a chuvas intensas ocorridas em maio e junho.