A vindima que agora vai arrancar deverá resultar numa produção inferior a 3% em relação à campanha 2019/2020. Os dados avançados pelo IVV apontam para um volume total de 6,3 milhões de hectolitros. O instituto sublinha que foi um ano marcado pela “instabilidade meteorológica observada ao longo do ciclo vegetativo”, com o registo de “focos de míldio” que obrigaram a tratamentos intensivos e cuidados redobrados. No geral, porém, “as uvas apresentam um bom estado fitossanitário”.
As regiões vitivinícolas de Terras de Cister (-35%), Trás-os-Montes (-20%), Douro e Porto (-20%), Terras do Dão (-20%) e Açores (-15%) são as principais responsáveis por esta ligeira quebra. Na região das Terras da Beira não se antecipam variações. Nas restantes regiões estão previstos aumentos de produção, destacando-se a região do Minho, com o maior acréscimo em volume (+73 mil hectolitros) e a região do Algarve, com o maior crescimento percentual (+15%).
Vinhos Verdes em alta
Por regiões, e como referido, o Minho espera um aumento na produção de 9%, relativamente ao ano anterior. Apesar da ocorrência de focos de míldio, as expectativas para a presente campanha são positivas: a produção total ascende a 890 mil hectolitros, 7% acima da média dos últimos cinco anos.
Na região de Trás-os-Montes, pelo contrário, a previsão aponta para um decréscimo na produção de 20% (118 mil hectolitros, mesmo assim 7% acima da média das cinco últimas campanhas), que resulta do facto da produção do ano anterior ter sido acima da média e também devido ao míldio, ao oídio e, neste último período, ao escaldão.
Na região Douro e Porto prevê-se uma quebra da produção de vinho de 20%, correspondendo a uma diminuição de 8% face à média do período 2015/2020. A variabilidade meteorológica verificada nos meses de abril e maio potenciaram a ocorrência de míldio e de oídio, o que obrigou à realização de vários tratamentos fitossanitários. Recentemente, o calor excessivo tem provocado escaldão. A produção global deverá superar o volume de 1,35 milhões de hectolitros. Recorde-se ainda que o Conselho Interprofissional (CI) do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) estabeleceu o benefício de 102.000 pipas, de 550 litros cada, (92.000, mais 10.000 de reserva qualitativa) de mosto para produção de Vinho do Porto. Este sofre uma redução de 6.000 pipas face a 2019, decorrente das quebras de vendas ocorridas no mercado nacional e internacional.
Quebra no Dão
Por sua vez, a região da Beira Atlântico aponta para um aumento de produção de 10% (175 mil hectolitros). As “condições climatéricas com temperaturas elevadas, precipitação durante vários dias e as recentes humidades matinais” foram favoráveis ao desenvolvimento de pontuais focos de míldio. A vindima para base espumante está prevista para a primeira semana de Agosto o que, a verificar-se, corresponde a uma antecipação de 10 dias face a 2019.
Na região Terras do Dão prevê-se uma descida na produção de 20% (206 mil hectolitros) resultante de geadas tardias e de ataques de míldio que ocorreram em algumas zonas da região. As uvas fora das zonas afetadas apresentam, do ponto de vista fitossanitário, boa qualidade.
Na região Terras da Beira a previsão aponta para uma produção semelhante à campanha passada (256 mil hl.). Alguma quebra de produção devida à geada, neve e granizo foi compensada pelo aumento de produção nas vinhas jovens.
Na região Terras de Cister espera-se uma redução de 35% na produção, para 39 mil hl.. As fortes geadas no início do ciclo vegetativo, aliadas a uma queda de granizo numa fase posterior, contribuíram para a acentuada quebra na produção, estima o IVV.
A sul, boas novas
No Tejo prevê-se um aumento da produção (+5%), cerca de 61,6 milhões de litros, pelo que a campanha deverá resultar na produção de 647 mil hl.. O estado sanitário das uvas é bom, verificando-se algum míldio ao nível das folhas, apesar do reforço de tratamentos. As castas brancas evidenciam algum escaldão devido ao calor que se fez sentir nos últimos dias. Nesta região, entre janeiro a junho de 2020 e face ao período homólogo do ano anterior, a Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo) dá nota de um aumento de 47,13% no que toca à certificação de vinhos, o que corresponde a 15,21 milhões de litros. Neste primeiro semestre o valor de certificação está já acima do total de vinho certificado em 2018, que rondou os 13,50 milhões de litros – valor que subiu para os 23,30 milhões de litros, em 2019.
Na região de Lisboa perspetiva-se um acréscimo de 5% na produção, superando um milhões de hl.. Os focos localizados de míldio e oídio não perturbaram a qualidade sanitária das uvas, mas começam a aparecer sinais de escaldão. O ciclo vegetativo apresenta um avanço de cerca de uma semana relativamente ao ano anterior.
Na Península de Setúbal é esperado um aumento de produção de 5%, ou seja, 529 mil hl. De produção global. Em Março e Abril, verificaram-se alguns focos de míldio mas sem impacto significativo na produção. Apesar das altas temperaturas que se sentiram durante dias consecutivos, apenas são visíveis alguns estragos por escaldão, na casta Moscatel. No geral, a maioria das uvas apresenta-se sã e de boa qualidade.
No Alentejo estima-se que a produção de vinho aumente 5%, cifrando-se em torno do milhão de hl. produzidos. As vinhas, de uma maneira geral, apresentam bom desenvolvimento vegetativo e estado sanitário. Na segunda quinzena de julho, as temperaturas elevadas acompanhadas de vento quente e seco, potenciaram a ocorrência de alguns casos de escaldão.
Finalmente, em Portugal Continental, e no Algarve, a previsão de produção aponta para um aumento de 15%, ou seja, 16 mil hl. Alguns focos de oídio não comprometeram o aumento da produção esperado devido ao bom desenvolvimento vegetativo das vinhas, que antecipa uma colheita de boa qualidade.
Madeira sobe, quebra nos Açores
Na região da Madeira estima-se um aumento de produção de 9%. Na generalidade, as vinhas encontram-se em bom estado fitossanitário; contudo, na costa norte foram detetados focos pouco expressivos de míldio, de oídio e de black rot. Se não se verificar a ocorrência de chuvas, como as do mês de junho e julho, perspetiva-se uma boa vindima em termos qualitativos, ascendendo a produção a 42 mil hl.
Nos Açores a previsão global é de uma diminuição de produção de 15%, para 11 mil hl. Mas que, mesmo assim, deverá ser 18% superior à média das cinco últimas campanhas. Ao nível do desenvolvimento vegetativo das vinhas, a quantidade de flores que nasceram foi reduzida, implicando desde o início perdas na produção agravadas pelo vingamento irregular. Nos meses de maio e junho verificaram-se ataques moderados de míldio e de oídio.
Por saber fica, para já, qual será o comportamento do mercado face a este ligeiro aumento de produção e de que forma os preços da uva e dos vinhos reagirá à presente conjuntura.