Wines By Heart deu-se a conhecer a Lisboa

Fotografia: Fotos D.R.
Manuel Moreira

Manuel Moreira

A partir da Itália, França, Espanha, Alemanha, Estados Unidos, Austrália ou Chile chegam a esta nova empresa vinhos de autor, enquadrados nas diversas tendências da atualidade. 

 

“Vinhos Selecionados com o Coração” é o mote da nova importadora e distribuidora de vinhos Wines by Heart Lisboa. A emoção está no epicentro do critério de escolha dos vinhos. É com este sublinhado que os mentores, Guilherme Corrêa, Igor Beron e Rómulo Mignoni, pretendem que o vinho toque a alma e o coração do maior número de pessoas possível. Guilherme Corrêa Dip WSET foi duas vezes o “melhor Sommelier do Brasil” pela ABS/ASI, finalista da primeira edição “melhor Sommelier das Américas” pela APAS/ASI e graduado pela Associazione Italiana de Sommeliers, na Toscana, para além de muitos anos na relevante importadora Decanter no Brasil. Igor Beron, para além da paixão pelo surf, é também Master of Wine Business (MBA), pela Universidade de Adelaide, na Austrália. Já Rômulo Mignoni, para além de administrador de empresas, também é detentor do nível 3 da WSET. A seleção dos vinhos é sustentada em relações próximas de décadas com vários dos produtores selecionados. A partir da Itália, França, Espanha, Alemanha, Estados Unidos, Austrália ou Chile chegam-nos vinhos de autor, enquadrados nas diversas tendências da atualidade. Na totalidade, ou quase totalidade, de importação exclusiva. Uma prova de apresentação de parte do portefólio comprovou a qualidade da oferta. Diga-se que a condução da prova, também ela, foi de nível muito alto. 
Nos espumantes, a prova começou pela tradicional e muito reputada Bisol, com o seu Crede Valdobbiadene Prosecco Superiore Brut, ublinha o solo de origem – Crede (argila e arenito de origem marinha). Mostra notável seriedade de estrutura, finesse, muito longe dos exemplos mass market, que conquistam mercados pelo mundo. De Trentino, surge a máxima referência italiana em espumantes, pelo método clássico, a marca Ferrari. Provado o Ferrari Perlé 2012, 100% Chardonnay de seis anos sobre leveduras, seduz pela complexidade, estrutura e charme irrepreensíveis. De Champagne, vem o pequeno Vilmart & Cie., praticante biológico na Montagne de Reims. De facto, o Grand Réserve Brut 1er Cru (WS 93), de incrível precisão, tenso, austero, vibrante e profundo, acomoda sem esforço a reputação que o precede.

Brancos do mundo

Nos brancos, Louis Michel & Fils, considerado por alguns dos mais influentes sommeliers mundiais, produz aquele que é considerado um dos três melhores Chablis. Biológico, mas não certificado, a madeira não faz parte do seu vocabulário enológico. Assim, encontra no inox a neutralidade para reproduzir a pureza dos seus terroirs. O seu Chablis 2016, muito cristalino, brutalmente seco, fulgurante de frescura e salinidade, sublinha de forma inequívoca a conceção. As cuvées mais ambiciosas, depois desta amostra, deixam água na boca. 
De Sancerre, a casa Vincent Pinard continua a tradição de 20 gerações pelos irmãos Florent e Clément, que vinificam cada parcela em separado, de modo biodinâmico, o seu Sancerre Le Château 2016, de vinhas velhas e mínima intervenção, de notável textura, refinado e austero, que deambula ao redor do aneto e acácia e menos sobre o vegetal mais identificável da casta. 
Da Alemanha, duas propostas: Wittmann, proveniente do Rheinhessen, e Markus Molitor, do Mosel. Weingut Wittmann, viticultores desde 1663, pioneiros na viticultura orgânica, passam a biodinâmico em 2004 , com Phillipp Wittmann, hoje ao comando. O seu Riesling Trocken 2017, fermentado em foudres, evidencia potência de estrutura, incrível tensão, a casta mostra o seu lado menos “acessível”, pecando somente pela extrema juventude. Markus Molitor, nome grande em toda a Alemanha, desde os 20 anos de idade, dá sequência a oito gerações de produtores. Markus entregou-se à missão de crivar cada um dos 20 terroirs de videiras velhas, não enxertadas, em garrafa. O Riesling Ockfener Bockstein Kabinett (Green Capsule) 2015 (RP 93), rico e profundo de aroma, excelente de fruta e herbal, de persistência fumada de dimensão mineral, incita a experimentar.  
Gravner, nome muito grande na oferta da Wines By Heart, prodigioso produtor, referente maior do chamado vinho natural e orange wines, que após muitas voltas, voltou ao princípio. A Ribolla Gialla, casta branca do Collio na região do Friuli Venezia Giulia, antes por ele desvalorizada, hoje é o seu instrumento. A prova do Ribolla Ânfora 2009, de espontânea fermentação, mostra o âmbar dos cinco meses de maceração; surgem no aroma as alusões de pot pourri, fruta madura e seca, feno seco, cera, petrolados, carnudo na boca, terroso, interminável de extensão e memória gustativa, oriunda dos seis anos de envelhecimento nos típicos botti de carvalho esloveno. Super fresco e com a vida toda pela frente. 
“Eu não sigo o mercado, elaboro vinhos que me encantam, vinhos do meu território. São aquilo que são, e não aquilo que querem que seja”. É assim que Alessandro Dettori concebe os vinhos na ilha da Sardenha. Na senda do natural e biodinâmico, vivamente sugerido por Antonio Galloni como exemplo do que de bom se faz na Sardenha, o seu Renosu Bianco N/V, com base nas locais Vermentino e Moscato di Sennori revela um exotismo ímpar nas notas de aneto seco, resina, cera, erva príncipe, tons terpénicos, bem denso e profundo. 

Tintos imperdíveis

Nos vinhos tintos, de Beaujolais chegou um produtor, Domaine Chapel, encabeçado pelo casal David Chapel e Michelle Smith-Chapel que, das aventuranças como sommeliers ao afeto comum pela Gamay, lançaram-se num ápice como produtores. De Juliénas, cru de Beaujolais que alia elegância à força e estrutura de outros crus, o lieux-dit (parcela) “Côte de Bessay” 2017, vigoroso e centrado nas notas de cereja preta, groselha, ameixa, de firme estrutura, suculento e notável frescura. 
Da expressiva oferta de Itália, chegam vinhos de várias paragens. Da Toscana, Isole e Olena (Chianti Clássico) e Caprili (Montalcino). Isole e Olena, duas propriedades adquiridas nos idos dos anos 50, tem ao leme o reputadíssimo piemontês Paolo De Marchi desde 1976. Este Chianti Classico 2015 (RP 92), invoca o classico desde cedo pela tonalidade aberta, a cereja, o tostado e herbal seco, carne seca, especiarias torradas, a estrutura firme de taninos mais secos que suculentos, amargo e frescura quase salina. Caprili, um dos resistentes da tradicional escola do Brunello di Montalcino, é defensor do amadurecimento longo nos tradicionais botti de carvalho da Eslovénia. A prova do Brunello di Montalcino 2013 expõe essa veia balsâmica, tabaco, especiarias que envolvem a cereja e ameixa. Sabor salino, suculento, umami e sensação a terrosidade e suco de carne. 
Do Veneto, a operação familiar em biológico Ca’La Bionda venera como um Borgonha a uva Corvina, demonstrado no Valpolicella Classico Superiore “Campo Casalvegri” 2015. Precisão incrível no aroma, destaque ao toque da cereja marasca, finesse e tensão de taninos, culmina num deliciosa secura e toques de amargo. 
Não poderia faltar o Barolo e um dos seus sagrados guardiões. Barale Fratelli, com vinhedos de velhos clones de Nebbiolo nos mais excecionais crus da DOGC, em regime biológico, com uso de leveduras indígenas e o longo envelhecimento nos botti de 1500 e 3000 litros de carvalho francês e eslovenos, e também em garrafas demigiane. O seu Barolo Vendemnia 2014, de lindos gradientes visuais, é um hino de complexidade, floral, fruta, especiarias, balsâmicos, frescura desconcertante e final de suprema elegância. 
De Espanha, provamos La Rioja Alta, referência histórica de Rioja, em que o Viña Alberdi Reserva 2012 resume uma simbiose de frescura, estrutura e complexidade. Da Ribera del Duero, o Dominio del Águila. Depois de passar pelo Domaine de la Romanée Conti e Veja Sicilia, Jorge Monzón, juntamente com sua esposa Isabel, através de vinhas centenárias de mil cuidados e tratamento enológico em jeito de artesanato, tem no seu Dominio del Águila Reserva 2014 a combinação entre a fruta densa e ampla, revestida de frescura ímpar, perfume inebriante que se aprisiona na memória, finesse e músculo, em melodia inesperada. 
De fora da Europa, a oferta é escolhida a dedo. De Martino chega de Maipo, Chile, do qual provamos o Carménère Alto de Piedras Single Vineyard 2015, que exibiu a riqueza e profundidade exótica da casta. Cominhos, cravinho, mentolado seco, ameixa, amora, elegância e precisão na suculência de boca, quase a cheirar a …Europa. Da Austrália surge a Ochota Barrels, que esfarrapa o conceito de bomba de fruta e álcool. Taras Ochota, surfista que, em Adelaide Hills, explora vinhedos antigos de forma biodinâmica e artesanal, faz vinhos em quantidades minúsculas, mas de sublime elegância e frescura. Provamos o Fugazi Grenache McLaren Valley 2017, de cor aberta, aromas a romã, groselha vermelha, herbal fresco, jovialidade e irreverência de estilo. Um verdadeiro vinho de sommelier. 


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